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CARLOS HEITOR CONY
O grande comício
RIO DE JANEIRO - Paramentado
de arminho e mitra, o bispo subiu
no búfalo e gritou, brandindo o báculo: "Cobri-vos de cinza e fazei penitência, que o Grande Pecador
cumpriu seus dias de ignomínia
sobre a face da Terra e o Justo descerá dos céus para chover terror e
castigo!".
O búfalo corcoveava ouvindo essas coisas, e tanto corcoveou que jogou o bispo devidamente paramentado ao chão. Mas o báculo de ouro,
ao tocar o solo, transformou-se
num guarda-chuva colorido, e uma
japonesa de saiote e pernas de fora
equilibrava-se com ele, em cima de
um arame farpado.
Lá embaixo -que a plateia era
imensa e opaca- havia emoção e silêncio, pois o grão-vizir subia pelo
mastro a fim de cortar o arame. Eis
quando pelo mastro subiu o búfalo
e com feroz cabeçada atirou o grão-vizir na Geena do ranger de dentes.
O povo aplaudiu a nobre ação do
búfalo, mas o búfalo subiu pelo arame e, equilibrando-se numa só de
suas cinco patas, devorou a japonesa e seu guarda-chuva aos olhos atônitos da multidão, que bradava:
"Não! Não! Só com as Grandes Reformas a pátria será salva!".
Então o búfalo resolveu fazer sua
Grande Reforma ali mesmo, com os
intestinos ainda cheios da japonesa
e de seu guarda-chuva. Prometeu
votar em Dilma Rousseff.
O empresário torceu as barbas e
apitou novamente: foi quando o céu
se rasgou em duas partes e de uma
delas saiu um almirante tocando
cuíca. E da outra parte surgiram
cinco dúzias de melancias cortadas
em fatias.
Nisso, o búfalo, sustentando-se
em suas cinco pernas, comeu o empresário, o almirante e o bispo paramentado. Depois disso, o báculo de
ouro cresceu até se transformar numa forca. E o povo enforcou o búfalo. Mas ouviu-se uma voz sinistra
que perguntou: "E quem enforcará
o povo?".
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