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CLÓVIS ROSSI
Sem Lula, 50 anos depois
ZURIQUE - O governador Aécio
Neves (PSDB-MG) força um pouco
a barra na contagem do tempo para
sublinhar a excepcionalidade da
disputa presidencial de 2010. Diz
que faz praticamente 50 anos que
não há eleição presidencial sem que
o nome de Luiz Inácio Lula da Silva
esteja na lista de candidatos.
Para chegar a esse número, há
que incluir os 28 anos em que o regime militar bloqueou eleições (a
última antes do golpe de 1964 fora
em 1961; depois dele, só em 1989).
Mas, de fato, em todas as eleições
seguintes (1989, 1994, 1998, 2002 e
2006), Lula foi candidato.
Significa o seguinte: o eleitor de
menos de 60 anos (a imensa maioria) jamais votou para presidente
sem que o nome do atual governante estivesse à sua disposição.
E daí? Aécio não chega a especular muito sobre as conseqüências
da novidade. Afasta, como "sonho
de verão", não de Lula, mas de alguns fiéis, a tentativa de impor um
terceiro mandato consecutivo.
Afasta também a hipótese de que
Lula seja um grande cabo eleitoral.
"No Brasil, não há tradição de
transferência de votos", afirma.
O governador mineiro, óbvio
candidato a candidato, por mais
que diga que é cedo para falar em
candidaturas, parece acreditar que,
em parte pela ausência de Lula, o
pleito de 2010 se dará em torno de
idéias, muito mais do que pessoas.
É hora, acha ele, de um "projeto
para o país", até porque "as pessoas
estão cansadas dessa disputa pessoal pelo poder sem que se diga o
que se vai fazer com o poder".
O governador José Serra (PSDB-SP), potencial adversário de Aécio
na disputa interna pela candidatura, vai no mesmo caminho. Horas
depois das declarações do governador mineiro, Serra disse concordar
com citação feita domingo neste espaço (do espanhol Vicente Verdú),
segundo quem o nível dos debates
se ajustou "ao tamanho exato do
discurso de taxista".
crossi@uol.com.br
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