São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Cara a tapa

BRASÍLIA - Vencida a guerra da eleição, José Serra deveria enfrentar com igual ânimo uma outra batalha: a greve da Polícia Civil, que já dura mais de mês, pode piorar muito e se prolongar por um bom tempo, alastrar-se por pelo menos oito Estados e desabar no Congresso.
Está tramitando um projeto para equiparar os salários de policiais e promotores. O inicial de uns é de pouco mais de R$ 4.000, e o dos outros bate em R$ 18.000. A emenda é dessas que não passam, mas dão um suadouro danado.
A CUT e o PT aproveitaram o movimento e o embalo das eleições e das dificuldades de Marta Suplicy para tentar sitiar o Palácio dos Bandeirantes. Serra não só jogou a Polícia Militar contra a Civil, como tirou uma lasquinha ao denunciar na TV a motivação política.
Mas a eleição passou, e a situação não pode continuar como está, até com foto de policial estapeando motoqueiro. Negociação já!
Os policiais reclamam que recebem o menor salário da categoria em todo o país e exigem 15% de aumento agora, mais 12% em 2009 e mais o mesmo percentual em 2010.
A contraproposta de Serra, de 6,5% em janeiro de 2009 e mais 6,5% em 2010, pode até ser justa e razoável -talvez seja, talvez não-, mas o principal é que ela chegou tarde, com os ânimos exaltados e contaminados pelo confronto PT-PSDB.
Não deixa de ser curiosa a ausência do secretário de Segurança, o...
Como é mesmo o nome dele? Até a defesa e o ataque via imprensa quem assume é a Secretaria de Gestão Pública. E Serra ficou na linha de frente, numa batalha em que não há vitória, mas pode haver derrota.
Ele deixou a coisa ir longe demais, e ela está fora de controle.
Confronto de gente armada nas ruas é bem diferente de uma queda-de-braço política "com esse pessoal da CUT e do PT". E pode se repetir.
Os delegados não têm cara no meio da multidão grevista, e a cara que está a tapa não é deles nem de motoqueiro. É a do próprio Serra.

elianec@uol.com.br


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