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CARLOS HEITOR CONY
Dificuldades
RIO DE JANEIRO - Nunca antes,
o atual governo deu mostras de estar embananado com uma crise
econômica que a princípio negou e
agora admite como grave e inédita.
Grave também, sem ser inédita, é a
medida provisória que transita no
Congresso, com apoio sistemático
da base governista e pesadas críticas da oposição. Tudo nos conformes, cada facção fazendo a sua parte. Acontece que a opção pelo liberalismo, e seu rebento batizado de
neo, está vivendo o seu momento
de verdade, não apenas no Brasil
mas em todo o mundo.
Escolhendo o mercado como supremo gestor da sociedade, a economia mundial é obrigada a buscar
algum tipo de estatização. E, no caso que agora enfrentamos, apelar
para uma estatização perversa que
contempla o capital mal administrado em detrimento do trabalho
desvalorizado.
A MP fala em ajuda a "empresas
em dificuldades", sobretudo a bancos, cujas "dificuldades" são provocadas pela necessidade de lucros cada vez maiores. Para impedir falências e insolvências, o governo pretende tapar os buracos com o dinheiro que, afinal de contas, sairá
de uma forma ou outra dos depósitos e ações que garantem a poupança daquela parcela de povo que pode se dar ao luxo de guardar algum
dinheiro para enfrentar suas próprias dificuldades.
Um banco que especulou com o
dólar desvalorizado está tendo dificuldade em comprar um concorrente. Uma fábrica precisa ampliar
seu parque industrial com terrenos
e equipamentos. Os executivos de
uma empresa precisam ser aposentados para abrir espaço a outros
mais jovens e não há dinheiro para
bancar os bônus previstos nos contratos -tudo são dificuldades.
Apela-se então para o Pai Patrão,
o mesmo pai que é amaldiçoado
quando aumenta o salário do trabalhador também em dificuldade.
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