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RUY CASTRO
Por dentro da tragédia
RIO DE JANEIRO - Esta semana, assisti com grande atraso ao documentário "102 Minutos que Abalaram o Mundo", do History Channel.
Trata do atentado ao World Trade
Center, em Nova York, a 11 de setembro de 2001, e foi feito a partir
dos sons e imagens captados por
celulares e câmeras de populares
na área da tragédia -apavorantemente ao vivo. Leva-nos para o centro dela, como nunca antes.
Fez-me rever meus conceitos sobre o século 20 como o mais documentado da história. Até então eu
me regozijava por viver numa época em que quase tudo que aconteceu desde 1900 teve alguma espécie de registro, em foto, filme, disco, desenho, vídeo etc. A frase continua valendo, mas quanto disso
sobreviveu e chegou até nós?
Oitenta por cento dos filmes mudos, pré-1929, se perderam -até
mesmo nos EUA, incluindo alguns
de Greta Garbo-, assim como 99%
do material filmado para cinejornais. No Brasil, essa perda se estendeu por décadas. Dos seis filmes
que Carmen Miranda rodou aqui
nos anos 30, só restou "Alô, Alô,
Carnaval!". Que imagens de Garrincha você conhece, exceto duas ou
três, manjadas, de 1962? E, ao ver
hoje cenas das passeatas de 1968,
tem-se a impressão de que, juntamente com os estudantes, elas também foram pisoteadas pelos cavalos da PM na porta da Candelária.
Já o que está sendo registrado em
nosso tempo periga durar para
sempre, não pela indestrutibilidade das mídias, mas pela quantidade de registros. Todo mundo está
agora acoplado a uma câmara. O
11/9 foi há nove anos, quando o número de filmadoras em celular era
ínfimo se comparado ao atual. Mesmo assim, o History Channel produziu quase duas horas de horrível
emoção sem recorrer ao material
das grandes redes de TV.
Pelo visto, o que ainda vem por aí
em matéria de registro e documentação ameaça despachar o século
20 para o século 13.
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