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CESAR MAIA
Emulsificação política
A campanha eleitoral 2010
tem vários custos além do que
é mais óbvio: o da campanha.
Nesta eleição, são ao menos
seis os custos adicionais.
O primeiro custo é o de cumprir as promessas. O segundo
é o de não cumprir as promessas. O terceiro custo é o de a
agenda final do primeiro turno e inicial do segundo ter tido
um caráter religioso. O quarto
é o custo econômico para o
Brasil da política econômica
eleitoral, com o real valorizado e contas públicas em processo de desmontagem. O
quinto é o custo estratégico de
se sair de uma campanha sem
agenda e sem projeto para o
país. O sexto é o custo político
de uma Câmara estilhaçada.
Ao primeiro custo (as promessas dos candidatos) devem-se somar aquelas feitas
pelos candidatos a governador articuladas com os candidatos a presidente. Se cumpridas, as pressões fiscais e inflacionárias, que já são preocupantes, serão agravadas. O segundo custo é não cumprir as
promessas e ganhar tempo e,
com isso, antecipar uma inevitável impopularidade, pela
sucessão de um presidente cuja popularidade é pessoal, não
de seu governo. O terceiro custo é trazer para a agenda eleitoral temas (valores cristãos)
que terminaram reforçando a
partidarização das igrejas.
O quarto custo é econômico. Se há um ponto em que o
governo atual e o anterior se
igualam é ter usado o populismo cambial e fiscal em ano
eleitoral. O governo anterior
pagou por isso em seu segundo momento.
Constrói-se um consenso de
que 2011 será um ano perdido,
que exigirá um freio de arrumação cambial e fiscal. Estima-se uma inflação nunca inferior a 7% e um crescimento
econômico medíocre.
O quinto é o custo estratégico de uma campanha sem
agendas. Questões fundamentais para os próximos anos
-como a política externa e as
circunstâncias internacionais
do governo Obama "terminar"
dois anos antes; a dependência à China; a guerra das moedas; França e Grã-Bretanha estarem aplicando medidas fiscais severas; a Europa viver a
politização da crise da imigração; o chavismo extrapolar
suas provocações; o Irã intensificar a instabilidade na região- passaram ao largo da
campanha.
E, finalmente, o custo político das relações entre Executivo e Câmara dos Deputados,
que tendem a ser as mais inorgânicas desde sempre. São 22
partidos representados, um
recorde. Os quatro maiores
partidos apenas representarão 50% dela, outro recorde.
E, mais grave, se a inexperiência parlamentar e sua fragilidade potencial (numa das
alternativas presidenciais) sinalizarem a seu partido e aos
deputados espertos que vale a
pena pressionar.
O mais provável é termos
em 2011 um estranho caso de
emulsificação política.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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