São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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ESQUERDAS NA AMÉRICA

O paralelo entre o recém-eleito presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é inescapável. Ambos são militares, têm a patente de coronel, defendem um vago ideário de esquerda e, antes de ser eleitos, haviam participado de tentativas de golpe de Estado.
Já adentrando o terreno da psicologia, é possível identificar nos dois líderes alguns traços de megalomania. Enquanto Chávez não cessa de fazer referências a Simón Bolívar, o grande herói latino-americano, Gutiérrez compara o golpe que desfechou contra o presidente Jamil Mahuad, em janeiro de 2000, à Revolução Francesa de 1789.
Gutiérrez merece, por ora, o benefício da dúvida. Suas curiosas semelhanças com Chávez não autorizam a prever, para a sua administração, as mesmas dificuldades e o mesmo tipo de problema que permeiam o mandato do venezuelano.
Num certo sentido, a eleição de Gutiérrez guarda semelhanças também com a de Luiz Inácio Lula da Silva. Neste caso, as analogias se dão menos em torno das personalidades individuais e muito mais em relação aos ânimos das populações que levaram os dois mandatários ao poder. Ao que tudo indica, desempenhou importante papel nas eleições de ambos os candidatos tidos como esquerdistas a grande frustração com as reformas ultraliberais.
Quase uma década depois de sua implantação nos principais países latino-americanos, a receita baseada em abertura comercial e financeira, privatizações e redução do papel do Estado não foi capaz de trazer mais prosperidade às populações desses países. Em alguns casos, como o do Equador e da Argentina, houve até um nítido empobrecimento.
É razoável até supor que outros candidatos de esquerda saiam vitoriosos nos próximos pleitos latino-americanos. Apesar da grave crise econômica que afeta o subcontinente, as democracias estão, de um modo geral, funcionando.


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