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CLÓVIS ROSSI
Adeus, imperialismo
SÃO PAULO - Não deixa de ser irônico que Luiz Inácio Lula da Silva, um
presidente muito mais voltado para o
Brasil, inicie na prática o seu governo
de fora para dentro.
Como não tem, ainda, a caneta
presidencial para assinar o que quer
que seja, Lula não pode produzir atos
concretos de efeito interno. Mas como
já tem a garganta presidencial, pode,
sim, emitir discursos sobre questões
externas com força de lei, para dizê-lo de forma burocrática.
É precisamente isso que Lula fará
nas suas três viagens ao exterior antes da posse (Argentina, a partir de
amanhã, Chile e Estados Unidos). Leva na bagagem três discursos devidamente escritos (FHC improvisa um
bocado nessas ocasiões) para estar seguro de que os recados certos serão
dados às pessoas certas.
Recado 1 - O governo do PT não
tem medo da Alca, mas põe como
prioridade a América do Sul e, acima
de tudo, o Mercosul.
Não é diferente, convenhamos, da
prioridade de FHC. Ao contrário: pode-se acusar o atual presidente de um
punhado de coisas, menos de não ter
feito o possível para salvar o bloco sulista. A crítica que se faz a FHC é exatamente a inversa: excesso de concessões aos argentinos.
Recado 2 - Acabou-se no PT a fase
"yankees, go home". Ou seja, as relações com os Estados Unidos não serão pautadas por considerações ideológicas, mas pelo mais puro interesse
comercial e econômico.
Aloizio Mercadante, uma das vozes
do partido em questões internacionais, não esconde o olho gordo em cima do mercado norte-americano:
"Os dez maiores superávits comerciais do mundo são todos financiados
pela economia dos Estados Unidos",
constata, guloso.
Já dá para ver que aquela coisa de
"imperialismo norte-americano" foi
para o baú, como boa parte da "memorabilia" petista. Se é bom ou ruim,
só o tempo dirá.
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