São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Adeus, imperialismo

SÃO PAULO - Não deixa de ser irônico que Luiz Inácio Lula da Silva, um presidente muito mais voltado para o Brasil, inicie na prática o seu governo de fora para dentro.
Como não tem, ainda, a caneta presidencial para assinar o que quer que seja, Lula não pode produzir atos concretos de efeito interno. Mas como já tem a garganta presidencial, pode, sim, emitir discursos sobre questões externas com força de lei, para dizê-lo de forma burocrática.
É precisamente isso que Lula fará nas suas três viagens ao exterior antes da posse (Argentina, a partir de amanhã, Chile e Estados Unidos). Leva na bagagem três discursos devidamente escritos (FHC improvisa um bocado nessas ocasiões) para estar seguro de que os recados certos serão dados às pessoas certas.
Recado 1 - O governo do PT não tem medo da Alca, mas põe como prioridade a América do Sul e, acima de tudo, o Mercosul.
Não é diferente, convenhamos, da prioridade de FHC. Ao contrário: pode-se acusar o atual presidente de um punhado de coisas, menos de não ter feito o possível para salvar o bloco sulista. A crítica que se faz a FHC é exatamente a inversa: excesso de concessões aos argentinos.
Recado 2 - Acabou-se no PT a fase "yankees, go home". Ou seja, as relações com os Estados Unidos não serão pautadas por considerações ideológicas, mas pelo mais puro interesse comercial e econômico.
Aloizio Mercadante, uma das vozes do partido em questões internacionais, não esconde o olho gordo em cima do mercado norte-americano: "Os dez maiores superávits comerciais do mundo são todos financiados pela economia dos Estados Unidos", constata, guloso.
Já dá para ver que aquela coisa de "imperialismo norte-americano" foi para o baú, como boa parte da "memorabilia" petista. Se é bom ou ruim, só o tempo dirá.


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