UOL




São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Agora vai?

BRASÍLIA - Todo mundo anda seco por uma boa notícia. Ei-la: grandes quadrilhas, sempre impunes, começam a fazer o caminho da cadeia. Não só uma, e não só num lugar. A onda caça-corruptos ganhou vida.
A Operação Anaconda ilumina a terrível aliança entre policiais, juizes e promotores para livrar a cara de bandidos. Ilumina, por exemplo, as sentenças da lavra Mazloum.
O ex-governador Neudo Campos (RR) foi preso por suspeita de contratar "gafanhotos" e rachar os salários com a sua turma. E policiais civis de Guarulhos foram pegos com a boca na botija e o contrabando em casa.
A segurança pública brasileira é a tragédia que a gente bem conhece, e a corrupção é esse mal que atravessa décadas e instituições. Mas a sensação de que "agora vai" é sempre um prazer que os céticos, eternamente céticos, não conseguem desfrutar.
Um dos efeitos da Anaconda e da prisão do ex-governador tem justamente essa característica: a crença de que é possível. Ela começa no Ministério da Justiça e chega à Polícia Federal, onde um sisudo e apolítico Paulo Lacerda tem sido elogiado por fazer o que tem de ser feito: investigar e, se for o caso, prender.
Há na PF, dizem, grupos petistas, tucanos e ligados ao senador e "xerife" Romeu Tuma. Mas, se a coisa funciona, isso não interessa. E parece estar funcionando, até contra a venda de sentenças para absolver bandidos muitas vezes presos pela própria PF.
Corporações como essa vivem, também, de motivação: bons salários, reconhecimento, resultados. Qual é o sentido de um policial arriscar o pescoço e botar a mão em criminosos que depois saem lépidos e fagueiros pelas mãos de colegas e juizes corruptos? É de doer.
A PF foi criada em 64, com o regime militar, como braço civil dos órgãos militares de espionagem e repressão política. Desde então, muita coisa mudou. O Brasil e os militares mudaram, a própria PF parece estar mudando muito com o vento a favor da transparência. Que tenha êxito. Ninguém quer perder a esperança de vez.



Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A bala de canhão
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Claudia Antunes: Estorvo para "responsáveis"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.