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CLÓVIS ROSSI
O câncer e o PT
SÃO PAULO - Houve época em
que se preferia "insidiosa moléstia"
a câncer, uma maneira de mascarar
a realidade.
O PT incorre na mesma empulhação. O câncer ético que corrói o
partido não é mencionado por seus
dirigentes ou candidatos a dirigentes. Preferem a própria versão de
"insidiosa moléstia".
É câncer mesmo. Ou "tumor fétido", como prefere Frei Betto, companheiro de viagem dos petistas até
o desencanto com o tumor. Tumor
que deu origem a uma "organização
criminosa", para usar expressão do
procurador-geral da República, outra personalidade insuspeita de fazer parte da tal "conspiração da mídia", que não existiu, mas que petistas e intelectuais usaram como
biombo para esconder a pouca-
vergonha.
Agora, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, confessa um dos crimes praticados, mas o embala como
"insidiosa moléstia". Disse à Folha:
"Até 2004, havia, digamos, uma regra não escrita que as campanhas
não precisavam ter uma formalização tão grande".
"Não formalização" é a forma cínica, desonesta, de dizer "caixa-dois". Que é crime.
Mas não foi o único crime. Só
trouxa ou sem-vergonha acredita
que Marcos Valério seja um mecenas que tira do próprio bolso o dinheiro para o PSDB mineiro, primeiro, e o PT nacional, depois.
Candidato da oposição a Berzoni
e, portanto, contra o "câncer", José
Eduardo Cardozo tampouco tem
coragem de usar a palavra certa, como pede a honestidade intelectual.
Prefere dizer que "a causa da crise
está exatamente no modo de direção" e na "ausência de percepção de
que a ética na política é pressuposto fundamental para a ação transformadora que o PT propõe ter".
"Ausência de percepção" ética é o
que Frei Betto chama de "tumor fétido". Câncer não se extirpa encobrindo os muitos crimes cometidos
com palavras ocas.
crossi@uol.com.br
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