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ELEIÇÃO EM RISCO
No que representa um golpe
contra os planos da Casa
Branca para o Oriente Médio, o Partido Islâmico do Iraque, principal legenda sunita do país, anunciou que,
devido à falta de segurança, não vai
mais participar das eleições legislativas previstas para janeiro. Crescem,
assim, as preocupações relativas à representatividade do pleito. Os árabes
sunitas correspondem a 20% da população iraquiana, que conta também com cerca de 60% de xiitas e
pouco menos de 20% de curdos.
Um Parlamento do qual os sunitas
estejam excluídos ou no qual se encontrem sub-representados será um
problema. Antes de mais nada, é entre representantes dessa minoria que
se contam os principais focos de resistência à ocupação norte-americana. O fenômeno se explica em parte
pelo fato de os sunitas terem constituído a elite governante durante as
mais de três décadas da ditadura de
Saddam Hussein. A ausência de representantes políticos dessa fatia significativa da população iraquiana
provavelmente lançará mais combustível na fogueira da guerrilha.
É importante para os EUA evitar
que o país se desagregue. Uma eventual fragmentação do Iraque teria
conseqüências desastrosas para a
política de Washington na região.
Além da desistência do Partido Islâmico, verifica-se que as eleições
vêm despertando baixo interesse. Na
Província de Anbar, por exemplo,
uma das mais conturbadas do país,
só 50 candidatos se apresentaram
para disputar as 41 vagas do Conselho local. Parece assim que existem
motivos de sobra para adiar o pleito
até que haja segurança para que todos os grupos se façam representar.
A administração norte-americana,
porém, já deu repetidos sinais de que
não pretende postergar a eleição, o
que soaria como uma derrota.
De fato, um eventual adiamento
poderia parecer um triunfo dos grupos rebeldes -mais ainda depois do
aparecimento de uma fita na qual
Osama bin Laden conclama os sunitas iraquianos a boicotar o pleito.
Não parece, porém, que o prejuízo
de imagem com a mudança de data
supere o dano provocado pela escolha de um Parlamento do qual parcela expressiva da sociedade iraquiana
não estará representada.
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