São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

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ELEIÇÃO EM RISCO

No que representa um golpe contra os planos da Casa Branca para o Oriente Médio, o Partido Islâmico do Iraque, principal legenda sunita do país, anunciou que, devido à falta de segurança, não vai mais participar das eleições legislativas previstas para janeiro. Crescem, assim, as preocupações relativas à representatividade do pleito. Os árabes sunitas correspondem a 20% da população iraquiana, que conta também com cerca de 60% de xiitas e pouco menos de 20% de curdos.
Um Parlamento do qual os sunitas estejam excluídos ou no qual se encontrem sub-representados será um problema. Antes de mais nada, é entre representantes dessa minoria que se contam os principais focos de resistência à ocupação norte-americana. O fenômeno se explica em parte pelo fato de os sunitas terem constituído a elite governante durante as mais de três décadas da ditadura de Saddam Hussein. A ausência de representantes políticos dessa fatia significativa da população iraquiana provavelmente lançará mais combustível na fogueira da guerrilha.
É importante para os EUA evitar que o país se desagregue. Uma eventual fragmentação do Iraque teria conseqüências desastrosas para a política de Washington na região.
Além da desistência do Partido Islâmico, verifica-se que as eleições vêm despertando baixo interesse. Na Província de Anbar, por exemplo, uma das mais conturbadas do país, só 50 candidatos se apresentaram para disputar as 41 vagas do Conselho local. Parece assim que existem motivos de sobra para adiar o pleito até que haja segurança para que todos os grupos se façam representar.
A administração norte-americana, porém, já deu repetidos sinais de que não pretende postergar a eleição, o que soaria como uma derrota.
De fato, um eventual adiamento poderia parecer um triunfo dos grupos rebeldes -mais ainda depois do aparecimento de uma fita na qual Osama bin Laden conclama os sunitas iraquianos a boicotar o pleito.
Não parece, porém, que o prejuízo de imagem com a mudança de data supere o dano provocado pela escolha de um Parlamento do qual parcela expressiva da sociedade iraquiana não estará representada.

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