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FERNANDO DE BARROS E SILVA
48 horas
SÃO PAULO - José Serra recebe a prefeitura de Marta Suplicy depois de
amanhã. O que fará? O que deixará
de fazer? Quais são suas prioridades?
Para onde -e como- caminhará a
administração da cidade? Sabe-se
quase nada a respeito.
Eleito, o novo prefeito pouco fez para esclarecer os paulistanos. Afora algumas declarações vagas e protocolares, todas elas em coletivas cercadas
de interdições, evitou entrevistas.
Dizer que seu programa de governo
é vago é quase uma cortesia. Serra
não tinha um plano de gestão formalizado até um estágio bem avançado
da campanha eleitoral. Foi eleito por
razões outras. Antes por sua biografia do que por suas propostas.
Desde que venceu, não falou mais
delas. Que são tênues, revelou-nos o
doutor Pinotti. Solto por um dia, embananou-se a respeito do futuro dos
CEUs, que desconhece, e deu a primeira amostra de que foi escalado na
posição errada. Há muitas razões para temer aí um baita retrocesso.
Marta revelou-se uma política que
gosta de abusar dos paradoxos. Aspectos pessoais à parte, deixa um legado híbrido: de um lado, realizações
visíveis na periferia e para os pobres
(CEUs, bilhete único e programas de
transferência de renda, para citar algumas); de outro, uma situação alarmante no que se refere ao endividamento da prefeitura. A isso se soma
um clima de fim de feira que sugere,
na saída, certo descaso com a cidade.
Nada disso, porém, reduz a enorme
expectativa em relação à gestão Serra. Mas qual expectativa? Se quisermos falar ainda da possibilidade de
construção de padrões de vida coletiva minimamente civilizados numa
cidade tão hostil e socialmente tão
fraturada, parece claro que Serra terá
de priorizar aquela gente das beiradas, a legião dos sem-nada que votou
majoritariamente em Marta.
É o contrário do que espera a maior
parte de seu eleitorado. A primeira
tarefa do novo prefeito seria esta:
lembrar à alma tucana do paulistano
que o mundo não começa no Alto de
Pinheiros nem termina ali na Mooca.
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