São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

48 horas

SÃO PAULO - José Serra recebe a prefeitura de Marta Suplicy depois de amanhã. O que fará? O que deixará de fazer? Quais são suas prioridades? Para onde -e como- caminhará a administração da cidade? Sabe-se quase nada a respeito.
Eleito, o novo prefeito pouco fez para esclarecer os paulistanos. Afora algumas declarações vagas e protocolares, todas elas em coletivas cercadas de interdições, evitou entrevistas.
Dizer que seu programa de governo é vago é quase uma cortesia. Serra não tinha um plano de gestão formalizado até um estágio bem avançado da campanha eleitoral. Foi eleito por razões outras. Antes por sua biografia do que por suas propostas.
Desde que venceu, não falou mais delas. Que são tênues, revelou-nos o doutor Pinotti. Solto por um dia, embananou-se a respeito do futuro dos CEUs, que desconhece, e deu a primeira amostra de que foi escalado na posição errada. Há muitas razões para temer aí um baita retrocesso.
Marta revelou-se uma política que gosta de abusar dos paradoxos. Aspectos pessoais à parte, deixa um legado híbrido: de um lado, realizações visíveis na periferia e para os pobres (CEUs, bilhete único e programas de transferência de renda, para citar algumas); de outro, uma situação alarmante no que se refere ao endividamento da prefeitura. A isso se soma um clima de fim de feira que sugere, na saída, certo descaso com a cidade.
Nada disso, porém, reduz a enorme expectativa em relação à gestão Serra. Mas qual expectativa? Se quisermos falar ainda da possibilidade de construção de padrões de vida coletiva minimamente civilizados numa cidade tão hostil e socialmente tão fraturada, parece claro que Serra terá de priorizar aquela gente das beiradas, a legião dos sem-nada que votou majoritariamente em Marta.
É o contrário do que espera a maior parte de seu eleitorado. A primeira tarefa do novo prefeito seria esta: lembrar à alma tucana do paulistano que o mundo não começa no Alto de Pinheiros nem termina ali na Mooca.

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