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ELIANE CANTANHÊDE
Auto-estima "do" brasileiro
BRASÍLIA - Lula aproveita o final do ano para discorrer sobre auto-estima, afeto, família, orgulho nacional e
fracassomaníacos. Tudo, em resumo,
para falar "ao coração das pessoas".
Ou ao voto do eleitor.
Com seus discursos e entrevistas, ele
ocupa longos minutos de TV e de rádio e páginas inteiras de jornais. Antecipa, assim, o clima de palanque e
propaganda que se espera em 2005,
véspera das eleições presidenciais.
Note-se sobretudo a campanha pela auto-estima que o ministro Gushiken bolou e está encomendando a
agências e publicitários. Como se o
problema dos brasileiros não fosse
desemprego, miséria, violência e falta
de moradia, mas, sim, falta de vocação para ser feliz. Baixa auto-estima.
Italianos, espanhóis, portugueses e
franceses, para ficar entre os europeus, acham justamente o contrário:
não entendem como é que os brasileiros vivem em poleiros nos grandes
centros, pedem esmola nas ruas, vestem-se com molambos e estão sempre
sorrindo (sem dentes!). Apesar de tudo, fazem Carnaval, rebolam, são bonitos, sensuais e cheios de lero-lero.
Lá, na Europa, eles acham que o
brasileiro é um pobre feliz. Aqui, o
presidente vê o brasileiro como um
sortudo que só reclama do lado ruim
das coisas. Questão de ótica. Uma é
do turista. A outra é do candidato.
Se alguém chega ao fim de 2004
com boas razões para estar com a auto-estima lá em cima, não é o zé-povinho, mas, sim, o próprio Lula. Passou o ano apanhando por causa da
política econômica e da má gerência
na área social, perdeu colaboradores
importantes e simbólicos, levou um
tranco no segundo turno das eleições
municipais. Mas sua aprovação cresceu dez pontos em quatro meses e bate em 45% segundo o Datafolha.
A economia dá bons sinais, o presidente vai bem e o candidato à reeleição parece ótimo. Com uma freada
nos juros e uma campanha maciça
de afeto, amor, orgulho e felicidade,
Lula entra 2005 com tudo. As condições do brasileiro podem não estar lá
essas coisas, mas a auto-estima do
presidente está uma maravilha.
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