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CLAUDIA ANTUNES
Disputa midiática
RIO DE JANEIRO - Os necrológios de Susan Sontag registram que ela foi
tachada de antiamericana, entre outros adjetivos ferozes, quando, logo
depois do 11 de Setembro, publicou
na "New Yorker" um artigo no qual
atribuía os atentados "às ações e
alianças" dos Estados Unidos e dizia
que os terroristas que explodiram as
torres gêmeas poderiam ser tudo menos covardes, como os havia chamado George W. Bush.
O episódio teria terminado como
um debate acalorado se o objetivo
das críticas fosse somente o de contestar equívocos na análise da ensaísta.
Porém, ao negar qualquer legitimidade às inquietações de Sontag, elas
visavam excluir da mídia, e principalmente da TV e do rádio, idéias
que pudessem pôr em xeque a ordem
unida que dali em diante deveria ser
seguida pelos americanos.
O resultado desse furor censório só
foi conhecido neste ano, quando os
principais jornais dos EUA admitiram ter caído na falácia das armas
de destruição em massa e começaram a questionar uma estratégia de
política externa que teve a pretensão
de começar pelo Iraque uma revolução democrática no Oriente Médio.
A ofensiva que reduziu ao mínimo
a contestação ao governo foi, além de
estúpida, desnecessária. Se, no período que vai do New Deal aos anos 60,
a centro-esquerda teve maior influência entre os pensadores ouvidos
pela imprensa americana, o quadro
já havia mudado quando Bush foi
eleito. A partir dos 80, neoconservadores ganharam a comunicação de
massa a partir dos seus "think tanks".
Nomes como Fukuyama e Kristol tornaram-se tão conhecidos quanto
Galbraith ou Stiglitz.
Na França, berço dos intelectuais
engajados, aconteceu o mesmo, com
os falecidos Sartre, Foucault e Bourdieu dando lugar aos "novos filósofos" Bernard-Henri Lévy e Glucksmann, hoje na linha de frente do
combate ao islamismo radical. Nos
EUA, como em toda parte, a campanha contra o "liberalismo" (no sentido americano) da mídia foi extemporânea e indica um desejo de dominação que vai além da hegemonia.
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