São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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Editoriais

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Repressão em Teerã

A NOVA onda de protestos da oposição no Irã indica que as cisões na sociedade e na elite política do país são ainda mais fortes do que levavam a crer as intensas manifestações de junho deste ano. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas, à época, para contestar a lisura do pleito que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Há uma semana, o funeral do aiatolá Hossein Ali Montazeri se transformou em ocasião para protestos contra o governo. Um dos arquitetos da Revolução Islâmica de 1979, Montazeri também havia considerado fraudulenta a vitória de Ahmadinejad.
No domingo, em novas manifestações, ao menos oito pessoas foram mortas, e mais de 300 opositores, detidos. Ali Mousavi, 35, sobrinho do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, foi assassinado -segundo relatos, por disparos da polícia.
Apesar das severas restrições ao trabalho da imprensa, a violência policial, o recurso do regime a milícias fascistoides, a perseguição aos críticos e a manifestação de líderes religiosos descontentes dão testemunho da disputa de poder em curso.
Por décadas a teocracia islâmica galvanizou amplo apoio, seja na população, seja na elite. O aumento do poder de compra e do acesso à educação ao longo de 30 anos, contudo, levou à emergência de uma classe média ansiosa pela ampliação de liberdades.
É impossível saber aonde levará esse acirramento da disputa política -decerto agravada pelas restrições financeiras advindas da queda no preço do petróleo, o centro de gravidade daquela economia. Amplia-se, entretanto, o repúdio internacional à repressão, à censura e à intimidação patrocinadas pelo regime xiita.
Brasília constitui lamentável exceção. O chanceler Celso Amorim se esquece da algazarra que o governo Lula alimentou no caso de Honduras e agora invoca o argumento de que não se pode intervir em temas internos do Irã.
Cabe aos iranianos a resolução de seus conflitos domésticos. Mas, evidentemente, seria desejável que o fizessem de modo pacífico, sem recurso à violência de Estado. Não estivesse o Itamaraty dominado por um maniqueísmo militante, exumado da Guerra Fria, seria simples enunciar essa distinção.


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