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Editoriais
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Repressão em Teerã
A NOVA onda de protestos da
oposição no Irã indica que
as cisões na sociedade e na
elite política do país são ainda
mais fortes do que levavam a crer
as intensas manifestações de junho deste ano. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas, à
época, para contestar a lisura do
pleito que reelegeu o presidente
Mahmoud Ahmadinejad.
Há uma semana, o funeral do
aiatolá Hossein Ali Montazeri se
transformou em ocasião para
protestos contra o governo. Um
dos arquitetos da Revolução Islâmica de 1979, Montazeri também havia considerado fraudulenta a vitória de Ahmadinejad.
No domingo, em novas manifestações, ao menos oito pessoas
foram mortas, e mais de 300
opositores, detidos. Ali Mousavi,
35, sobrinho do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, foi
assassinado -segundo relatos,
por disparos da polícia.
Apesar das severas restrições
ao trabalho da imprensa, a violência policial, o recurso do regime a milícias fascistoides, a perseguição aos críticos e a manifestação de líderes religiosos descontentes dão testemunho da
disputa de poder em curso.
Por décadas a teocracia islâmica galvanizou amplo apoio, seja
na população, seja na elite. O aumento do poder de compra e do
acesso à educação ao longo de 30
anos, contudo, levou à emergência de uma classe média ansiosa
pela ampliação de liberdades.
É impossível saber aonde levará esse acirramento da disputa
política -decerto agravada pelas
restrições financeiras advindas
da queda no preço do petróleo, o
centro de gravidade daquela economia. Amplia-se, entretanto, o
repúdio internacional à repressão, à censura e à intimidação patrocinadas pelo regime xiita.
Brasília constitui lamentável
exceção. O chanceler Celso Amorim se esquece da algazarra que o
governo Lula alimentou no caso
de Honduras e agora invoca o argumento de que não se pode intervir em temas internos do Irã.
Cabe aos iranianos a resolução
de seus conflitos domésticos.
Mas, evidentemente, seria desejável que o fizessem de modo pacífico, sem recurso à violência de
Estado. Não estivesse o Itamaraty dominado por um maniqueísmo militante, exumado da
Guerra Fria, seria simples enunciar essa distinção.
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