São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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RECESSÃO CRIMINAL NOS EUA

A criminalidade nos EUA vem caindo nos últimos sete anos, tendência que intriga os especialistas. Não há consenso sobre a causa principal do declínio, embora haja uma inclinação para identificá-la com alguma panacéia da moda, como a política de "tolerância zero" praticada pela polícia de Nova York.
Uma primeira e óbvia causa pode ser encontrada no bom desempenho da economia norte-americana ao longo desta década, mas ela não satisfaz os analistas, especialmente porque não permite explicar variações regionais e demográficas.
Alguns criminologistas associam esse componente socioeconômico à retração do mercado de crack, derivado da cocaína que no final dos anos 80 tornou-se a droga mais consumida por adolescentes dos grandes centros urbanos. Prováveis futuros consumidores, acreditam os especialistas, estariam sendo desestimulados pelos exemplos devastadores dos próprios pais e irmãos.
As estatísticas corroboram indiretamente essa suspeita. Relatório divulgado há pouco pelo Departamento de Justiça dos EUA indica que as maiores reduções, desde 91, ocorreram no caso de crimes tradicionalmente associados ao consumo e tráfico de crack: homicídios (menos 31%) e assaltos a mão armada (32%).
Há outras interpretações, no entanto. Alguns dos estudiosos atribuem a queda da violência a razões demográficas, no caso a simples diminuição do contingente de jovens na faixa de idade mais propensa ao crime. Outros preferem destacar o papel do chamado policiamento comunitário, ou ainda o aumento da precaução e o emprego de equipamentos de segurança por parte do público.
O mais provável é que a diminuição da criminalidade nos Estados Unidos resulte de uma combinação de vários desses fatores, sendo o baixo desemprego e a mobilização da comunidade os fatores centrais do fenômeno. É algo que todo cidadão deve ter em mente quando ouvir promessas de soluções milagrosas para dar cabo da não menos complexa criminalidade nas cidades brasileiras.



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