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A triste festa do empate
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Os telejornais e os lojistas
festejam vendas de Natal superiores
ao anêmico índice esperado.
Uma festa que combinava com o
martírio que era tentar, já não digo
comprar, mas entrar nos shopping
centers da cidade, nos três dias que
antecederam a véspera de Natal. Quase me convenci de que, uma vez mais,
os profetas do apocalipse haviam malogrado nas suas previsões.
A propósito, por que esse pessoal que
erra continuamente nas suas previsões, como demonstrou quadrinho publicado dias atrás por esta Folha, não
perde nunca nem o emprego nem a
aura de mago?
Parêntese fechado, voltemos ao Natal e suas vendas. Celso Pinto, com a
paciência que já perdi faz algum tempo, cuidou ontem de demonstrar que
qualquer avaliação sobre o comportamento das vendas era prematura e
que, mesmo que elas não tivessem sido
indigentes como inicialmente previso,
não significa que a crise acabou.
É triste que um rapaz com o talento
do Celso tenha que perder espaço para
escrever uma obviedade. Mas, no Brasil, o óbvio costuma ficar tão obscurecido que é continuamente necessário
relembrá-lo.
No mesmo dia, o noticiário da Folha
explicava a razão da festa: o faturamento do comércio no Natal deve ter
empatado com o do ano anterior, embora os números definitivos ainda não
estejam disponíveis.
A que ponto chegamos, não é? No futebol, empate é motivo de revolta, até
de queda do técnico. Vice-campeonato, então, vira tragédia nacional, como, de resto, aconteceu com a Copa da
França.
Mas, na economia, o país anda tão
capenga que festeja até empate com o
resultado de um ano que já não foi
dos mais brilhantes, mesmo porque a
crise asiática estava comendo solta (a
primeira explosão dos juros deu-se em
outubro de 97, lembra-se?).
Nesse cenário, andar de lado vira
motivo para comemorações. É triste.
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