São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A triste festa do empate

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Os telejornais e os lojistas festejam vendas de Natal superiores ao anêmico índice esperado.
Uma festa que combinava com o martírio que era tentar, já não digo comprar, mas entrar nos shopping centers da cidade, nos três dias que antecederam a véspera de Natal. Quase me convenci de que, uma vez mais, os profetas do apocalipse haviam malogrado nas suas previsões.
A propósito, por que esse pessoal que erra continuamente nas suas previsões, como demonstrou quadrinho publicado dias atrás por esta Folha, não perde nunca nem o emprego nem a aura de mago?
Parêntese fechado, voltemos ao Natal e suas vendas. Celso Pinto, com a paciência que já perdi faz algum tempo, cuidou ontem de demonstrar que qualquer avaliação sobre o comportamento das vendas era prematura e que, mesmo que elas não tivessem sido indigentes como inicialmente previso, não significa que a crise acabou.
É triste que um rapaz com o talento do Celso tenha que perder espaço para escrever uma obviedade. Mas, no Brasil, o óbvio costuma ficar tão obscurecido que é continuamente necessário relembrá-lo.
No mesmo dia, o noticiário da Folha explicava a razão da festa: o faturamento do comércio no Natal deve ter empatado com o do ano anterior, embora os números definitivos ainda não estejam disponíveis.
A que ponto chegamos, não é? No futebol, empate é motivo de revolta, até de queda do técnico. Vice-campeonato, então, vira tragédia nacional, como, de resto, aconteceu com a Copa da França.
Mas, na economia, o país anda tão capenga que festeja até empate com o resultado de um ano que já não foi dos mais brilhantes, mesmo porque a crise asiática estava comendo solta (a primeira explosão dos juros deu-se em outubro de 97, lembra-se?).
Nesse cenário, andar de lado vira motivo para comemorações. É triste.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.