São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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Conexão Manágua

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Os sequestradores de Abílio Diniz que podem ser beneficiados por FHC fazem parte de um grupo de ex-esquerdistas órfãos de ideologia. São exímios criminosos.
Aprenderam a fazer a revolução nos anos 60 e 70. Nos anos 80, perderam o rumo. Alguns se aposentaram. Outros seguiram no ramo em que se especializaram: sequestros.
Diniz foi sequestrado em 89. Em maio de 93, explodiu por acidente um "bunker" em Manágua, na Nicarágua. Milhares de documentos foram encontrados, inclusive os usados no caso do empresário brasileiro.
Chamavam a atenção no papelório de Manágua listas com nomes de empresários sequestráveis. Eram 77 pessoas do México e 65 do Brasil.
Essa internacional do sequestro tinha informações detalhadas sobre os sequestráveis. Havia fotos, costumes pessoais, trajetos diários. Tudo para facilitar a operação criminosa.
A doce Christine Lamont, hoje feliz da vida no Canadá, deixara na Nicarágua várias cartas manuscritas para seus familiares. Cada carta com uma data diferente. Seriam enviadas uma a uma, de tempos em tempos, enquanto ela e o namorado já estivessem no Brasil sequestrando empresários.
Tão detalhado, faltava ao material de Manágua uma informação: os nomes de possíveis beneficiados com o sequestro. Quais seriam as organizações revolucionárias que receberiam o dinheiro do tal crime político?
Ainda que todos os participantes do sequestro de Abílio Diniz tenham um passado de esquerda, isso não é suficiente para provar que o crime tenha sido necessariamente político.
Também não é possível afirmar taxativamente que todos os participantes do sequestro de Diniz entraram na operação só pelo dinheiro.
O mais provável é que tenha ocorrido uma mistura de interesses. Alguns pensando, bobamente, estar fazendo revolução. E outros querendo simplesmente enriquecer.
Em qualquer hipótese, ao pretender devolver essa gente para os seus países de origem, FHC estará dando uma mãozinha para quem enxerga na prática do sequestro um meio de vida.



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