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CLÓVIS ROSSI
Fim da história, de novo?
SÃO PAULO - Quando esteve pela
primeira vez em Davos, para o encontro anual de 2003 do Fórum
Econômico Mundial, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu a
Klaus Schwab, fundador do Fórum
e seu presidente, um diálogo entre o
mundo de Davos e o "povo de Porto
Alegre", onde então se reunia o Fórum Social Mundial.
Schwab até ensaiou uma aproximação com Oded Grajew, um dos
idealizadores do Fórum Social
Mundial. Não passou de ensaio, talvez porque o "povo de Porto Alegre" parecia temer o contágio.
Schwab chegou a convidar para o
encontro de Davos sindicalistas e
representantes de ONGs, inclusive
daquelas mais críticas. Fizeram algum sucesso até porque eram os
únicos a dizer coisas diferentes, já
que os políticos, também presenças
constantes em Davos, haviam todos
(Lula inclusive) se acomodado aos
conceitos do chamado pensamento
único.
Aos poucos, os alternativos foram
sumindo de Davos. Os manifestantes também. Neste ano, não havia
mais que uma dúzia deles, incapazes de chamar a atenção de quem
quer que seja.
O "povo de Porto Alegre" foi-se
tornando irrelevante para Davos.
Agora que o Fórum Social Mundial
resolveu descontinuar as suas reuniões, pelo menos até 2009, a irrelevância só fará aumentar.
É uma pena. Vozes alternativas
são essenciais para não deixar a humanidade acomodar-se, como se a
história tivesse de fato terminado,
como pretendeu, anos atrás, Francis Fukuyama, ao proclamar o irreversível triunfo do capitalismo e da
democracia.
O fato de o comunismo ter perdido só significa que o capitalismo é
melhor que o comunismo. Mas não
quer dizer que não precise de ajustes ou de vozes críticas. Foram elas,
para ficar em um só campo, que puseram na agenda a questão ambiental que tardiamente se incorpora ao
mundo de Davos.
crossi@uol.com.br
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