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PLÍNIO FRAGA
Trava-língua petista
RIO DE JANEIRO - O linguajar
eufemístico é característica da tecnoburocracia. Na era tucana, flexibilizar foi a palavra da moda. Era
usada para suavizar a quebra de
monopólios, a revisão de direitos
trabalhistas, a maleabilidade nas
obrigatoriedades estabelecidas em
lei. Foi a partir daí que o José Simão
iniciou sua campanha pela erradicação do tucanês.
Em todos os textos de todas as
edições da Folha em 1994, o verbo
flexibilizar apareceu apenas 66 vezes. No ano seguinte, o primeiro da
administração FHC, a freqüência
do uso do verbo saltou para 155.
Em si, a flexibilização não é necessariamente boa ou ruim. Mas,
quando se torna um ardil para justificar atos de governo -os justificáveis também, mas os injustificáveis principalmente -, a muleta
tecnoburocrática é alçada a totem.
A moda do lulês -a contraposição óbvia ao tucanês na sacada de
Simão- agora é destravar. Anteontem, Lula usou o termo de novo:
"Uma coisa importante [do PAC]
são as mudanças legislativas, que é
para tentar destravar o país", disse.
No primeiro ano da administração Lula, o verbo destravar apareceu na Folha parcas 16 vezes. No
ano passado, a freqüência do verbo
saltou para 147 (já flexibilizar caiu
para 66). Desde março de 2004,
"destravar" esteve presente 31 vezes nas falas de Lula.
A língua é reflexo dos tempos. O
país trocou o flexibilizar tucano pelo destravar petista. Ambos são
muletas da falta de estilo, dribles
lingüísticos, espertezas de discursos preguiçosos e pouco sinceros.
Um dos trava-línguas famosos é
o roubaram a roupa do rei de Roma.
No destrava-língua petista, os aloprados roubam a roupa do rei, que
diz não saber de nada, nem mesmo
se está nu. No país da piada pronta
do Simão, o presidente que pretende destravar o Brasil tem a língua
presa, e os aloprados estão à solta.
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