São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Os donos do mundo

LIUBLIANA - É sintomático que duas personalidades que a sabedoria convencional coloca na ala direita do espectro político (o ex-ministro brasileiro Delfim Netto e o presidente francês Nicolas Sarkozy) tenham reagido de forma muito parecida à crise financeira global.
Delfim reclamou ontem, na coluna aí ao lado, do fato de o sistema financeiro, "altamente inovador", ter ficado "sem nenhum controle externo". Sarkozy usou algo mais forte para descrever a crise: "Houve perda de controle".
Não acho que seja tão simples rotular um e outro como direitistas, mas esse não é o ponto a discutir aqui e agora.
O ponto é o final do texto de Delfim: "Deve ser evidente que o capitalismo (ou seja, o "mercado") não sobreviverá sem a regulação derivada de um imperativo moral categórico, internalizado pelos agentes e reforçado pela obrigação legal imposta pelo Estado".
Lamento, caro Delfim, mas é evidente para você. Quem teria o poder teórico para impor a regulação -os governos, em especial os dos países ricos- está absurdamente impotente.
Basta lembrar que, no encontro de terça-feira em Londres entre todas as grandes potências européias (Alemanha, França, Reino Unido e Itália, além do presidente da Comissão Européia), tudo o que se propôs para enfrentar a crise é "transparência". Ridículo, francamente ridículo.
Ridículo maior quando se considera que Angela Merkel, a chanceler alemã, queria, na cúpula do G8 em junho passado, um "código de conduta" para os "hedge-funds" e acabou não conseguindo nem isso de seus pares.
Agora, enfia a viola no saco. A verdade é a seguinte: os governos, hoje em dia, são, no máximo, meros atores coadjuvantes. Quem manda no mundo são os mercados financeiros.


crossi@uol.com.br

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