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CLÓVIS ROSSI
Os donos do mundo
LIUBLIANA - É sintomático que
duas personalidades que a sabedoria convencional coloca na ala direita do espectro político (o ex-ministro brasileiro Delfim Netto e o presidente francês Nicolas Sarkozy)
tenham reagido de forma muito parecida à crise financeira global.
Delfim reclamou ontem, na coluna aí ao lado, do fato de o sistema financeiro, "altamente inovador", ter
ficado "sem nenhum controle externo". Sarkozy usou algo mais forte para descrever a crise: "Houve
perda de controle".
Não acho que seja tão simples rotular um e outro como direitistas,
mas esse não é o ponto a discutir
aqui e agora.
O ponto é o final do texto de Delfim: "Deve ser evidente que o capitalismo (ou seja, o "mercado") não
sobreviverá sem a regulação derivada de um imperativo moral categórico, internalizado pelos agentes e
reforçado pela obrigação legal imposta pelo Estado".
Lamento, caro Delfim, mas é evidente para você. Quem teria o poder teórico para impor a regulação
-os governos, em especial os dos
países ricos- está absurdamente
impotente.
Basta lembrar que, no encontro
de terça-feira em Londres entre todas as grandes potências européias
(Alemanha, França, Reino Unido e
Itália, além do presidente da Comissão Européia), tudo o que se
propôs para enfrentar a crise é
"transparência". Ridículo, francamente ridículo.
Ridículo maior quando se considera que Angela Merkel, a chanceler alemã, queria, na cúpula do G8
em junho passado, um "código de
conduta" para os "hedge-funds" e
acabou não conseguindo nem isso
de seus pares.
Agora, enfia a viola no saco.
A verdade é a seguinte: os governos, hoje em dia, são, no máximo,
meros atores coadjuvantes. Quem
manda no mundo são os mercados
financeiros.
crossi@uol.com.br
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