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CARLOS HEITOR CONY
Ainda a morte de Jango
RIO DE JANEIRO - Não pretendia voltar ao assunto, mas o ministro da Justiça, Tarso Genro, na última terça-feira, mandou a Polícia
Federal interrogar o ex-agente secreto uruguaio Mário Neira Barreiro, preso na penitenciária de Charqueadas (RS). Detido por diversos
crimes, o prisioneiro fez declarações sobre a morte de João Goulart,
atribuindo-a a um assassinato por
ordem de autoridades brasileiras.
Houve uma Comissão Especial
da Câmara dos Deputados, em
2000, para apurar as circunstâncias
da morte de Jango. Seu relator, Miro Teixeira, não chegou a convocar
Barreiro. E a comissão encerrou
seus trabalhos de forma inconclusa,
uma vez que não tinha poder de
Justiça para ir adiante.
Logo depois, em 2002, Barreiro
deu um depoimento à Anna Lee e a
mim, depoimento que mais tarde
repetiria a João Vicente, filho de
Jango, e recentemente à repórter
Simone Iglesias, da Folha. Num relato fantasioso, mas cheio de detalhes verdadeiros, ele assume ter vigiado o ex-presidente até o dia de
sua morte. E garante que Jango foi
envenenado numa operação financiada pela CIA e concretizada por
agentes do Brasil, do Uruguai e da
Argentina.
O governo brasileiro deve checar
suas informações, abrir arquivos
(que ainda não foram disponibilizados). A Polícia Federal tem poderes que a Comissão Especial da Câmara não tinha, e muito menos
João Vicente, Anna Lee e eu também não tivemos. Por mais polêmica que seja a versão de Barreiro, ela
deve ser investigada em seus detalhes, e alguma luz poderá ser feita a
respeito da morte anunciada do ex-presidente.
O ministro da Justiça da época,
Armando Falcão, declarou há tempos a "O Globo": "Em 1976, alguns
órgãos, contrários à abertura promovida pelo presidente Geisel,
buscavam soluções extralegais".
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