São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Ainda a morte de Jango

RIO DE JANEIRO - Não pretendia voltar ao assunto, mas o ministro da Justiça, Tarso Genro, na última terça-feira, mandou a Polícia Federal interrogar o ex-agente secreto uruguaio Mário Neira Barreiro, preso na penitenciária de Charqueadas (RS). Detido por diversos crimes, o prisioneiro fez declarações sobre a morte de João Goulart, atribuindo-a a um assassinato por ordem de autoridades brasileiras.
Houve uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados, em 2000, para apurar as circunstâncias da morte de Jango. Seu relator, Miro Teixeira, não chegou a convocar Barreiro. E a comissão encerrou seus trabalhos de forma inconclusa, uma vez que não tinha poder de Justiça para ir adiante.
Logo depois, em 2002, Barreiro deu um depoimento à Anna Lee e a mim, depoimento que mais tarde repetiria a João Vicente, filho de Jango, e recentemente à repórter Simone Iglesias, da Folha. Num relato fantasioso, mas cheio de detalhes verdadeiros, ele assume ter vigiado o ex-presidente até o dia de sua morte. E garante que Jango foi envenenado numa operação financiada pela CIA e concretizada por agentes do Brasil, do Uruguai e da Argentina.
O governo brasileiro deve checar suas informações, abrir arquivos (que ainda não foram disponibilizados). A Polícia Federal tem poderes que a Comissão Especial da Câmara não tinha, e muito menos João Vicente, Anna Lee e eu também não tivemos. Por mais polêmica que seja a versão de Barreiro, ela deve ser investigada em seus detalhes, e alguma luz poderá ser feita a respeito da morte anunciada do ex-presidente.
O ministro da Justiça da época, Armando Falcão, declarou há tempos a "O Globo": "Em 1976, alguns órgãos, contrários à abertura promovida pelo presidente Geisel, buscavam soluções extralegais".


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