São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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Editoriais

Censura chinesa

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UM ENORME mercado consumidor, cujo poder aquisitivo aumenta a taxas inigualáveis no mundo, associado a um Estado centralizador e autoritário. A singularidade de tal combinação, na China, criou um modelo de relação do governo local com investidores estrangeiros também único.
Para ter acesso à demanda chinesa, empresas se curvam ao poder de barganha do Partido Comunista, ainda que isso signifique aceitar regras que em outros países seriam consideradas desvantajosas ou abusivas.
O caso mais notório é o da ferramenta de buscas Google, que ao se instalar no país, em 2006, submeteu-se à determinação de censurar pesquisas sobre temas considerados "sensíveis", como o massacre na praça da Paz Celestial, ocorrido há mais de 20 anos. Também o Yahoo!, um de seus principais concorrentes, já havia sido acusado, anos antes, de permitir o acesso, por parte do governo, a contas de e-mail de dissidentes políticos.
É justamente por fugir à regra que se torna digna de nota a reação do Google à tentativa de "hackers" chineses, há 20 dias, de violar a correspondência de ativistas de direitos humanos do país. A empresa anunciou que poria fim à "filtragem" de temas e se afirma disposta a interromper as atividades no país caso o governo não aceite a decisão.
O embate provocou reação da Casa Branca, que criticou a "cibercensura" do gigante asiático. Em resposta, os chineses argumentam que os EUA também vigiam e controlam informações da rede. Ademais, dizem ter o direito de se defender do "imperialismo de informação" praticado pelos americanos.
Na economia e na política, em resposta a críticas sobre manipulação desleal do câmbio ou à violação de direitos individuais, os chineses usam o mesmo recurso retórico relativista. Afirmam-se iguais ao Ocidente -"também os EUA agem assim"- ou diferentes, negando a existência de valores universais, a depender do interesse e da ocasião.

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