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CLÓVIS ROSSI
Porto Alegre em Davos
DAVOS - Eis que o "filho do Brasil", um certo Luiz Inácio Lula da
Silva, transformou-se em pai do
mundo. Seu discurso em Davos, ao
receber o título de "Estadista Global" conferido pelo Fórum Econômico Mundial, é um Sermão da
Montanha ao mundo (Davos está
encravada nos Alpes, a 1.542 metros
de altitude).
Se fosse necessário resumi-lo a
duas frases, seriam estas: eu fiz tudo
certo e o mundo continuou fazendo
tudo errado.
Daí vem, inexoravelmente, a proposta de reinventar o mundo. Ótimo. Gostaria até de ser o primeiro a
assinar um eventual manifesto a favor. Mas chego tarde: o povo de
Porto Alegre, como se chamava o
conglomerado que se reunia inicialmente na capital gaúcha, já está na
fila faz tempo ao pregar, sempre,
que "outro mundo é possível".
Pena que nem Lula nem o povo
de Porto Alegre puseram de pé, até
agora, como exatamente se chega a
esse outro mundo. Lula produziu
uma frase que é a quintessência do
vácuo: "Precisamos de um novo papel para os governos. E digo que, paradoxalmente, este novo papel é o
mais antigo deles: é a recuperação
do papel de governar".
Faz muito tempo, antes mesmo
de ser criado o Fórum Social Mundial, que observo os movimentos
críticos à forma como o mundo caminha e digo que é preciso ir além
das intermináveis discussões entre
os convertidos e apresentar uma
plataforma concreta com a qual disputar o voto do eleitorado. É a única
maneira (democrática) até agora
inventada de se obter um mandato
para construir outro mundo.
Aí, leio que o povo do Fórum Social ovacionou Lula quando o presidente a ele compareceu.
Bom, se o projeto que esse povo
quer ver implementado é esse que
Davos acaba de premiar, então Porto Alegre perdeu o sentido. É melhor vir todo mundo para os Alpes.
A vista é magnífica e é dela que saio
hoje de férias.
crossi@uol.com.br
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