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VINICIUS TORRES FREIRE
Da guerra justa
SÃO PAULO - Quem acompanha a mais recente onda de estupidez e horror, que ora cobre o Iraque, terá visto
generais e falcões civis americanos reclamar que os iraquianos cumpram
as leis da guerra. Algo como a guerra
tem lei?
Tem ou teve: de códigos de "conduta honrada" de guerreiros de milhares de anos e filósofos cristãos tentando conciliar o amor de Jesus com demandas temporais até a Convenção
de Haia (1907) e as Convenções de
Genebra (1950).
Especialistas dizem que o debate
sobre justiça na guerra e guerra justa
havia saído de moda desde o século
17, talvez devido à brutalidade da
Guerra dos 30 anos, que devastou
centro e norte da Europa (1618-48).
Notável é que as leis de guerra tenham ganhado letra impressa e garatuja global logo antes e depois das
duas maiores e indiscriminadas carnificinas da história, as duas Guerras
Mundiais. Desde então, elas servem
para críticos da guerra jogarem argumentos ao vento contra crimes de
guerra e para poderes vitoriosos condenarem os derrotados.
Os americanos reclamam que combatentes iraquianos usam roupas civis, usam táticas de guerrilha, carros-bomba e que matam soldados rendidos, o que é de fato intolerável se for
verdade. Já articulam tribunais militares para julgar os inimigos.
Pior ainda para as leis de guerra é a
jurisprudência: é proibido alvejar civis, mas a teoria do "duplo efeito" admite "danos colaterais". Civis mortos
por estarem perto do alvo militar.
Na semana passada, o jornalista
Robert Fisk achou um pedaço de metal com a assinatura americana na
bomba que caiu em um bazar, um
dano colateral que matou 62 civis em
Bagdá: 30003-704ASB 7492, a bomba
que os EUA diziam ser iraquiana.
No começo do século 20, 15% dos
mortos em guerras eram civis; no final do século da barbárie, 80% dos
cadáveres eram de não combatentes.
O que era lateral, paralelo, tornou-se
essencial. E ainda é legal.
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