São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O 31 de março de 1964

CARLOS DE MEIRA MATTOS

 "A história, mestra inalterável dos homens e das nações." (Rui Barbosa)

São passados 40 anos. Essa data merece ser lembrada na sua verdadeira significação e na sua real repercussão para a nossa sociedade.
A vitória do movimento de 31 de março, que derrubou o governo do presidente João Goulart, representou um grande alívio para a enorme maioria do povo brasileiro. Essa maioria, consciente de sua opção por viver numa sociedade democrática, vinha sendo ameaçada por uma minoria, instalada no poder, que pregava abertamente a supressão do regime constitucional e a implantação de um sistema de governo fechado, opressivo, que diziam sindicalista.
Toda a grande imprensa do Brasil saudou a derrubada do governo João Goulart como uma necessidade inarredável para a sociedade brasileira. Àqueles que quiserem conferir a veracidade dessa afirmação, basta que consultem os editoriais, artigos e noticiário dos dias que se seguiram à queda do governo Goulart.
Quem pôs o movimento na rua foi o governador do Estado de Minas Gerais, Magalhães Pinto, num manifesto lançado a 30 de março. Esse manifesto teve o apoio de quatro governadores de Estado: São Paulo, Guanabara, Mato Grosso e Alagoas.


A vitória do movimento de 31 de março representou um grande alívio para a enorme maioria do povo brasileiro


Vale a pena recordar alguns trechos do manifesto de Magalhães Pinto: "As radicalizações ideológicas, quando a ideologia inspiradora é incompatível com o que há de mais entranhado no povo brasileiro, só podem embaraçar ou retardar as reformas democráticas". E mais adiante: "Minas contribuirá com todas as suas forças e todas as energias de seu povo para a restauração da ordem constitucional, comprometida nesta hora".
A apreciação daquele momento histórico do dia 31 de março pelo jornalista Fernando Pedreira oferece-nos um quadro vivo da conjuntura que conduziu ao irrompimento do movimento político-militar: "O governo [João Goulart], desmoralizado pela corrupção, desorientado pela política contraditória de seu chefe, sujeito à influência de aventureiros de toda ordem da cúpula comunista e de grupos de esquerda imaturos e despreparados, acabou justificando, e até exigindo, uma intervenção militar" ("Março 31", editora José Alvaro, 1964).
Outro retrato fiel do enfoque jornalístico do significado desse dia, que ora relembramos, está na impressão daquele momento pelo jornalista Alberto Dines: "Enquanto muita gente festejava a vitória ruidosamente, nós estávamos saboreando algumas coisas ruins. Estávamos esperando por elas desde os dias terríveis de Goulart. Mas não tínhamos prática em raciocinar em termos de fins que justificam os meios. Mesmo que soubéssemos que, se Jango vencesse, seríamos nós a sofrer algo mais grave do que o expurgo ou a perda dos direitos" ("Março 31", editora José Álvaro, 1964).
Podemos acrescentar ainda o "close-up" do jornalista Carlos Castelo Branco, dizendo que dessa vez não se tratava de um golpe, "mas de uma ação militar revolucionária baseada no levante de pelo menos três governadores".
Meu propósito, como membro de vários institutos históricos, foi reconduzir a vitória do movimento de 31 de março à sua verdadeira significação. A derrubada do governo João Goulart não foi um golpe militar, como hoje insistem em tachar e propagar certos setores políticos e da imprensa.
O dia 31 de março de 1964 foi, sim, o marco que coroou a resposta da grande maioria dos brasileiros, apoiada pelas Forças Armadas, ante as ameaças e as tentativas de implantação de um regime político incompatível com a nossa vocação de viver numa sociedade livre e democrática.

Carlos de Meira Mattos, 90, general reformado do Exército e doutor em ciência política, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra.


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