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UM BRASILEIRO EM ÓRBITA
A viagem do tenente-coronel
Marcos Cesar Pontes ao espaço
serve a dois propósitos. Permite que
o governo diga que colocou um brasileiro no espaço -o que não é bom
nem mau- e ajuda a encobrir o fiasco que foi e ainda é a participação do
Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS) -o que é péssimo.
A novela da ISS começou no governo Fernando Henrique Cardoso. Pelo acordo inicial, firmado com a Nasa, a agência espacial norte-americana, o Brasil fabricaria peças para a estação, orçadas em US$ 120 milhões,
e figuraria como uma das 16 nações
construtoras da ISS, além de conquistar o direito de fazer duas viagens espaciais e alguns experimentos científicos. Era um projeto megalomaníaco desde a origem.
O Brasil, porém, nunca entregou as
peças prometidas. Vinha sendo pressionado pela Nasa. Mas, depois da
explosão do ônibus espacial Columbia, em 2003, o cronograma se desintegrou. O atraso deixou de ser importante, e o vôo do astronauta brasileiro ficou para as calendas.
Para não perder anos de treinamento de Pontes e ter a chance de dizer "pela primeira vez na história
deste país mandamos um homem ao
espaço", o governo Lula teve que se
entender com os russos. O Brasil está pagando cerca de US$ 10 milhões,
quando o valor "de mercado" de
uma viagem a bordo da Soyuz é de
US$ 20 milhões. Moscou concedeu
esse desconto porque pretende
transformar o Brasil em cliente de
sua tecnologia espacial.
A aventura brasileira pode produzir
vantagens intangíveis, como despertar o interesse de jovens pela ciência e
até mesmo facilitar a "venda" da base
espacial de Alcântara (MA) a países
interessados em lançar foguetes a
baixo custo. Dependendo do valor
que se atribua a esses eventuais benefícios, os US$ 10 milhões podem ser
considerados um preço razoável. Só
o que não dá é para tentar esconder
atrás do factóide do astronauta brasileiro o fracasso que foi a participação
do país na ISS.
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