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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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TELA FRIA

Seria difícil pensar, no momento, em projeto menos oportuno para o BNDES aportar recursos do que o da criação de um canal de TV a cabo visando colaborar com a integração da América Latina. No entanto, é o que está sendo feito. Não apenas o banco mas outros organismos do governo deverão investir dinheiro na TAL, sigla para Televisão da América Latina. O empréstimo seria pago, segundo reportagem da Folha, com "programas institucionais" a serem exibidos pela nova emissora. Prevê-se que, numa segunda etapa, a TAL venha a operar como rede aberta.
São compreensíveis as ambições estratégicas do governo em consolidar o país como um líder continental. Mais do que compreensível, tal pretensão, pelo peso específico do Brasil, parece ser quase "natural". Diversos governos da região têm manifestado seu apoio à liderança brasileira, encarnada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É certo também que líderes regionais devem assumir algumas obrigações além da simples retórica. Sabe-se que o BNDES já anunciou empréstimos de US$ 3 bilhões a países sul-americanos. Seria desejável que tais decisões -que implicam a definição de prioridades- fossem tomadas num regime de maior transparência e debate público, como a cultura petista afirma prezar.
A idéia de uma TV voltada para a América Latina não é em si condenável, embora tampouco desperte maior entusiasmo. Ao contrário: o fato de que nasça atrelada a governos já faz prever alguma contaminação oficialista em sua programação. É cedo para conclusões quanto a isso, mas não para considerar discutível o investimento. Mais ainda quando se sabe que as redes públicas de TV brasileiras encontram-se permanentemente às voltas com graves restrições orçamentárias.


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