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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O cavalo-de-pau

LAUSANNE- Quando afirmou, sem saber que estava sendo ouvido pelos jornalistas, que o governo do PT dera "um cavalo-de-pau na economia", o ministro José Dirceu certamente estava referindo-se ao fato de que a guinada impediu um eventual mergulho no abismo, a ser configurado por mais aumentos no risco-país e na cotação do dólar e, por extensão, mais inflação.
Seria a realização da profecia de "argentinização" feita por ilustres tucanos na campanha eleitoral.
Cavalo-de-pau não é, entretanto, uma boa imagem para o caso. A expressão pressupõe uma brusca virada, exatamente o inverso do que o PT fez. Risco-país e dólar caíram porque o PT, em vez da guinada, acelerou ainda mais o carro no rumo que vinha sendo seguido pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Evitar que o carro Brasil mergulhasse no caos previsto é, de fato, um bom motivo para comemorações. Mas o cavalo-de-pau que daria orgulho ao PT e alívio ao público ainda está por ser feito: a economia real entra em recessão, a julgar pelos dados divulgados anteontem pelo IBGE, e o desemprego, como é inexorável nessa circunstância, não pára de subir.
Não, não estou dizendo que a culpa pela recessão e pelo desemprego seja do governo Lula. Para voltar ao tipo de imagem usado por Dirceu, o carro já vinha com o motor engasgado havia um bom tempo.
Mesmo que a gestão Lula tivesse reduzido os juros, em vez de tê-los aumentado, e reduzido também o superávit fiscal, com o que o governo gastaria mais e, portanto, estimularia "um tico" a economia, ainda assim a flacidez continuaria presente. Esses estímulos só fazem efeito a médio prazo.
O problema, para o PT, é que, à medida que o governo anterior vai ficando mais distante no tempo, a "herança maldita" (sempre segundo Dirceu) começa a ser contabilizada no passivo petista. Urge, pois, o cavalo-de-pau capaz de gerar o "espetáculo do crescimento", para usar, agora, a imagem do próprio presidente.


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