São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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PLÍNIO FRAGA

Os nojentos e os assépticos

RIO DE JANEIRO - É bastante aceita a percepção de que esquerda e direita não existem mais, limitando-se a rótulos sem sentido num mundo pós-ideológico. Por extensão, começa a ser questionada a identificação de valores progressistas ou conservadores no jogo político. Numa sociedade individualista, tecnológica, na qual capital e ideias mantêm-se em circulação não regulada e contínua, amontoam-se nos destroços do pensamento as ambições coletivas -hoje centradas em nichos que necessitam de preservação, como, por exemplo, os ambientalistas.
Mesmo assim há parâmetros, em regra geral, para a distinção entre conservadores e progressistas. Ao formar seu juízo, conservadores dão mais importância a conceitos como ordem, lealdade, tradição, nação, fé, pureza e decência. Progressistas, ao estabelecerem parâmetros de julgamento, priorizam valores como igualdade, justiça, fraqueza, vulnerabilidade, expressão individual e compaixão.
É um sucesso na internet -em especial depois da citação de um colunista do "New York Times"- o site YourMorals.org, elaborado por especialistas de uma universidade americana que estudam as razões pelos quais o homem é o único ser que desenvolveu a noção de nojo -e como muitas sociedades recorrem a esse sentimento quando se defrontam com ameaças sociais.
Uma das teses do estudo é que conservadores e progressistas não só pensam de maneira distinta mas também sentem de modo diferente. De acordo com a pesquisa, a preocupação com contaminação ou a percepção de nojo é maior entre conservadores do que entre progressistas. Será que isso explica por que Hitller tinha obsessão pela assepsia e Che Guevara foi apelidado de "Porco" na escola?
Talvez só mostre que política é questão de gosto. Ou de nojo.


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