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PLÍNIO FRAGA
Os nojentos e os assépticos
RIO DE JANEIRO - É bastante
aceita a percepção de que esquerda
e direita não existem mais, limitando-se a rótulos sem sentido num
mundo pós-ideológico. Por extensão, começa a ser questionada a
identificação de valores progressistas ou conservadores no jogo político. Numa sociedade individualista,
tecnológica, na qual capital e ideias
mantêm-se em circulação não
regulada e contínua, amontoam-se
nos destroços do pensamento as
ambições coletivas -hoje centradas em nichos que necessitam de
preservação, como, por exemplo, os
ambientalistas.
Mesmo assim há parâmetros, em
regra geral, para a distinção entre
conservadores e progressistas. Ao
formar seu juízo, conservadores
dão mais importância a conceitos
como ordem, lealdade, tradição, nação, fé, pureza e decência. Progressistas, ao estabelecerem parâmetros de julgamento, priorizam valores como igualdade, justiça, fraqueza, vulnerabilidade, expressão individual e compaixão.
É um sucesso na internet -em
especial depois da citação de um colunista do "New York Times"- o site YourMorals.org, elaborado por
especialistas de uma universidade
americana que estudam as razões
pelos quais o homem é o único ser
que desenvolveu a noção de nojo
-e como muitas sociedades recorrem a esse sentimento quando se
defrontam com ameaças sociais.
Uma das teses do estudo é que
conservadores e progressistas não
só pensam de maneira distinta mas
também sentem de modo diferente.
De acordo com a pesquisa, a preocupação com contaminação ou a
percepção de nojo é maior entre
conservadores do que entre progressistas. Será que isso explica por
que Hitller tinha obsessão pela assepsia e Che Guevara foi apelidado
de "Porco" na escola?
Talvez só mostre que política é
questão de gosto. Ou de nojo.
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