São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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CAOS SEM FIM

Em princípio, pode ser uma boa idéia enviar tropas muçulmanas para participar dos esforços de pacificação do Iraque. Uma força islâmica provavelmente ajudaria a quebrar a imagem de governo títere dos EUA que cerca a administração do premiê Iyad Allawi, o que poderia contribuir para democratizar o país.
Essa, porém, é uma daquelas propostas cuja concepção é bastante mais simples do que a realização. A principal dificuldade, como não poderia deixar de ser, é encontrar países dispostos a oferecer soldados. O projeto foi lançado pela Arábia Saudita, nação que, provavelmente, não precisaria mandar homens, pois o próprio Iraque quer evitar que novas tensões étnicas e religiosas nas áreas de fronteira conturbem ainda mais o ambiente. Essa limitação, se perdurar, restringiria a oferta de tropas.
Outra preocupação é a violência, pois ao que tudo indica, a resistência iraquiana trataria as forças islâmicas como inimigas. Os insurgentes não têm hesitado em atacar nem os próprios iraquianos, como revelou o trágico saldo dos ataques de quarta-feira. No mais, desde que ficou claro que os argumentos utilizados pelos EUA para justificar a invasão eram falsos, alguns dos países que haviam oferecido tropas as retiraram. Não há exatamente um fato novo que faça inverter essa tendência. Ao contrário, os seqüestros de cidadãos de nações que ajudam os EUA funcionam como desestímulo. Por fim, o envio de tropas muçulmanas ao Iraque seria tão conveniente para o governo de George W. Bush (que poderia se distanciar ainda mais do caos que provocou no país), que alguns países islâmicos relutam em participar -como é o caso da Indonésia.
Por mais que a presença de uma força militar islâmica possa ser útil no Iraque e esforços diplomáticos devam ser feitos nesse sentido, está claro que a ação dos EUA deixou para trás uma situação extremamente complexa, para a qual todas as tentativas de encaminhar soluções apresentam grandes dificuldades.


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