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CAOS SEM FIM
Em princípio, pode ser uma
boa idéia enviar tropas muçulmanas para participar dos esforços
de pacificação do Iraque. Uma força
islâmica provavelmente ajudaria a
quebrar a imagem de governo títere
dos EUA que cerca a administração
do premiê Iyad Allawi, o que poderia
contribuir para democratizar o país.
Essa, porém, é uma daquelas propostas cuja concepção é bastante
mais simples do que a realização. A
principal dificuldade, como não poderia deixar de ser, é encontrar países
dispostos a oferecer soldados. O projeto foi lançado pela Arábia Saudita,
nação que, provavelmente, não precisaria mandar homens, pois o próprio Iraque quer evitar que novas tensões étnicas e religiosas nas áreas de
fronteira conturbem ainda mais o
ambiente. Essa limitação, se perdurar, restringiria a oferta de tropas.
Outra preocupação é a violência,
pois ao que tudo indica, a resistência
iraquiana trataria as forças islâmicas
como inimigas. Os insurgentes não
têm hesitado em atacar nem os próprios iraquianos, como revelou o trágico saldo dos ataques de quarta-feira. No mais, desde que ficou claro
que os argumentos utilizados pelos
EUA para justificar a invasão eram
falsos, alguns dos países que haviam
oferecido tropas as retiraram. Não
há exatamente um fato novo que faça
inverter essa tendência. Ao contrário,
os seqüestros de cidadãos de nações
que ajudam os EUA funcionam como desestímulo. Por fim, o envio de
tropas muçulmanas ao Iraque seria
tão conveniente para o governo de
George W. Bush (que poderia se distanciar ainda mais do caos que provocou no país), que alguns países islâmicos relutam em participar -como é o caso da Indonésia.
Por mais que a presença de uma
força militar islâmica possa ser útil
no Iraque e esforços diplomáticos
devam ser feitos nesse sentido, está
claro que a ação dos EUA deixou para
trás uma situação extremamente
complexa, para a qual todas as tentativas de encaminhar soluções apresentam grandes dificuldades.
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