São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O muro

SANTANDER - Começa a última etapa do seminário organizado pelo grupo Santander (que teve a ousadia de me convidar) para discutir a América Latina -sob a perspectiva de que "o melhor está por vir".
O presidente do Banco da Espanha (o BC espanhol), Jaime Caruana, fala das famosas reformas ditas neoliberais para decretar: "Não há atalho, não há espaço para reversão nem vias alternativas".
Aí, toma a palavra seu colega do Banco do México, Guillermo Ortiz, que faz uma desanimadora resenha do desempenho latino-americano entre 1960 e 2000 para chegar a uma recente pesquisa que mostra que 84% dos pesquisados não estão satisfeitos com o funcionamento da economia de mercado.
Significa que não estão satisfeitos com as tais reformas, dado que foram elas a fase visível da economia de mercado na região nos dez ou 15 anos mais recentes.
Bom, se tanta gente está insatisfeita, qual é a alternativa? O presidente do BC mexicano sugere mais reformas. Sim, "reformas de segunda geração", que seriam: melhorar a operação das instituições, transformar o sistema educativo e construir infra-estrutura de maior qualidade.
Brilhante. Falta só a quadratura do círculo. A revolução educacional de que necessita a América Latina custa dinheiro, como é óbvio. É preciso formar professores de alta qualificação, pagá-los devidamente (e não a miséria que se paga hoje) e dotar as escolas do equipamento indispensável, que é caro e exige renovação constante, porque a tecnologia muda quase de hora em hora.
Melhorar a infra-estrutura também custa, mesmo que se recorra ao esquema, polêmico, das PPPs (Parceiras Público-Privadas).
De onde, então, virá o dinheiro se o receituário "irreversível" também determina que o rigor fiscal é condição primeira para a credibilidade de qualquer país latino-americano?
O chamado "pensamento único" está batendo no muro, mas se recusa a pelo menos pensar em alguma alternativa. Azar nosso.


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