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CLÓVIS ROSSI
O muro
SANTANDER - Começa a última etapa do seminário organizado pelo
grupo Santander (que teve a ousadia
de me convidar) para discutir a América Latina -sob a perspectiva de
que "o melhor está por vir".
O presidente do Banco da Espanha
(o BC espanhol), Jaime Caruana, fala
das famosas reformas ditas neoliberais para decretar: "Não há atalho,
não há espaço para reversão nem
vias alternativas".
Aí, toma a palavra seu colega do
Banco do México, Guillermo Ortiz,
que faz uma desanimadora resenha
do desempenho latino-americano
entre 1960 e 2000 para chegar a uma
recente pesquisa que mostra que 84%
dos pesquisados não estão satisfeitos
com o funcionamento da economia
de mercado.
Significa que não estão satisfeitos
com as tais reformas, dado que foram
elas a fase visível da economia de
mercado na região nos dez ou 15
anos mais recentes.
Bom, se tanta gente está insatisfeita, qual é a alternativa? O presidente
do BC mexicano sugere mais reformas. Sim, "reformas de segunda geração", que seriam: melhorar a operação das instituições, transformar o
sistema educativo e construir infra-estrutura de maior qualidade.
Brilhante. Falta só a quadratura do
círculo. A revolução educacional de
que necessita a América Latina custa
dinheiro, como é óbvio. É preciso formar professores de alta qualificação,
pagá-los devidamente (e não a miséria que se paga hoje) e dotar as escolas do equipamento indispensável,
que é caro e exige renovação constante, porque a tecnologia muda quase
de hora em hora.
Melhorar a infra-estrutura também custa, mesmo que se recorra ao
esquema, polêmico, das PPPs (Parceiras Público-Privadas).
De onde, então, virá o dinheiro se o
receituário "irreversível" também determina que o rigor fiscal é condição
primeira para a credibilidade de
qualquer país latino-americano?
O chamado "pensamento único"
está batendo no muro, mas se recusa
a pelo menos pensar em alguma alternativa. Azar nosso.
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