|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Teto de vidro
BRASÍLIA - A expressão "telhado de vidro" (em inglês, "glass ceiling") tem
um significado diferente do usado na
versão brasileiro-lusitana. É costume
usá-la para indicar a existência de
um objetivo visível, mas protegido
por um escudo intransponível. Por
exemplo, um negro que enxerga uma
possível promoção no trabalho, só
que sempre esbarra em um "teto de
vidro" inquebrável. Não passa pelo
obstáculo. Nunca chega lá.
É mais ou menos o que se passa
com o Brasil a respeito do crescimento econômico, apesar da quase infantil euforia lulista-paloccista.
A ata da última reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária) do
Banco Central é um potente jato de
água fria na crença de que o país já
esteja preparado para crescer de maneira sustentada por um longo período -dez anos, como diz Palocci.
O Copom não vai, por um bom
tempo, reduzir a taxa de juros, hoje
em 16% ao ano. Como é possível? O
país faz superávits, paga suas dívidas
aos bancos e, no ano passado, o PIB
encolheu 0,2%. Não importa. Ocorre
que a inflação sobe acima do esperado. A cada dia os jornais trazem notícias de esgotamento de setores produtivos. O último foi o de siderurgia. Já
não há aço disponível no mercado
-por conta do pífio crescimento de
3,5% ou 4% da economia.
Há uma crença de que a saída para
o país superar seu déficit infra-estrutural sejam as tais PPPs (Parcerias
Público-Privadas). Enquanto isso, a
lei das agências reguladoras fica empacada no Congresso. A de biossegurança, idem. A incerteza jurídica é
total, basta ver o caos com as empresas de saúde. Só loucos e abnegados
investem em produção no Brasil.
No fundo, o governo petista enxerga onde gostaria de chegar. Só não vê
os obstáculos dessa travessia. Corre o
risco de se esborrachar num teto de
vidro mais adiante. Não porque exista preconceito contra Lula, como há
para minorias no mercado de trabalho. Mas, sim, pela falta de sofisticação intelectual para perceber o que
precisa ser feito e operar nessa direção.
Texto Anterior: Santander - Clóvis Rossi: O muro Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Laranjas e arapongas Índice
|