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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula por toda parte
SÃO PAULO - Essa é a primeira eleição presidencial, desde 1989, sem
que Lula seja candidato. Lula não
estará na cédula (ou na urna eletrônica), mas Lula está por toda parte.
Eis o paradoxo curioso: na eleição
em que está ausente, Lula mais do
que nunca está presente.
Ele é, ao mesmo tempo, protagonista do processo eleitoral e principal objeto da sucessão. A eleição gira em torno da figura do presidente
e do legado da era Lula.
Num sentido mais banal, toda
eleição é, também, um julgamento
do que veio antes. Mas não se trata
só disso. Lula tirou sua candidata
do bolso do colete e comunicou ao
PT; inviabilizou depois a candidatura de Ciro Gomes; organizou o
mapa da guerra e precipitou a polarização com os tucanos. Entrou na
campanha, como se diz, "de sola".
Continua -como Chacrinha na
canção de Gilberto Gil- buzinando
a moça e comandando a massa. E
envia, quando bem quer, "aquele
abraço" às leis e à Justiça Eleitoral.
O que autoriza e estimula a participação ostensiva e a quase onipresença de Lula no processo eleitoral
são, sem dúvida, os resultados do
governo, na economia e sobretudo
na área social. Na fórmula feliz do
economista Marcelo Neri, da FGV,
"se Getúlio Vargas foi o pai dos pobres, Lula é a nova classe média"
(sem prejuízo de que seja, também,
uma reedição do pai dos pobres).
Na política, no entanto, o lulismo
na melhor das hipóteses se rendeu
alegremente aos padrões do patrimonialismo brasileiro. Foi um retrocesso, sobretudo de quem se deveria esperar menos frouxidão ética
e tolerância com a bandidagem.
Para muito petista, tornou-se
mais cômodo sair em defesa de Sarney ou de Collor do que fazer justiça
à figura de FHC -o que, sob qualquer aspecto, é uma enormidade.
Balanços mais sérios da era Lula
deverão reconhecer rupturas, sim,
mas também um processo contínuo
e virtuoso entre este governo e o anterior. Mas por que cobrar lucidez
do PT se o próprio candidato tucano foge como pode do velho amigo?
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