São Paulo, sábado, 31 de julho de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Lula por toda parte

SÃO PAULO - Essa é a primeira eleição presidencial, desde 1989, sem que Lula seja candidato. Lula não estará na cédula (ou na urna eletrônica), mas Lula está por toda parte. Eis o paradoxo curioso: na eleição em que está ausente, Lula mais do que nunca está presente.
Ele é, ao mesmo tempo, protagonista do processo eleitoral e principal objeto da sucessão. A eleição gira em torno da figura do presidente e do legado da era Lula.
Num sentido mais banal, toda eleição é, também, um julgamento do que veio antes. Mas não se trata só disso. Lula tirou sua candidata do bolso do colete e comunicou ao PT; inviabilizou depois a candidatura de Ciro Gomes; organizou o mapa da guerra e precipitou a polarização com os tucanos. Entrou na campanha, como se diz, "de sola".
Continua -como Chacrinha na canção de Gilberto Gil- buzinando a moça e comandando a massa. E envia, quando bem quer, "aquele abraço" às leis e à Justiça Eleitoral.
O que autoriza e estimula a participação ostensiva e a quase onipresença de Lula no processo eleitoral são, sem dúvida, os resultados do governo, na economia e sobretudo na área social. Na fórmula feliz do economista Marcelo Neri, da FGV, "se Getúlio Vargas foi o pai dos pobres, Lula é a nova classe média" (sem prejuízo de que seja, também, uma reedição do pai dos pobres).
Na política, no entanto, o lulismo na melhor das hipóteses se rendeu alegremente aos padrões do patrimonialismo brasileiro. Foi um retrocesso, sobretudo de quem se deveria esperar menos frouxidão ética e tolerância com a bandidagem.
Para muito petista, tornou-se mais cômodo sair em defesa de Sarney ou de Collor do que fazer justiça à figura de FHC -o que, sob qualquer aspecto, é uma enormidade.
Balanços mais sérios da era Lula deverão reconhecer rupturas, sim, mas também um processo contínuo e virtuoso entre este governo e o anterior. Mas por que cobrar lucidez do PT se o próprio candidato tucano foge como pode do velho amigo?


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