São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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POBREZA SULINA

O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro que obteve a melhor pontuação no ranking de qualidade de vida do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), divulgado no ano passado. Segundo a ONU, é considerado um Estado de "alto desenvolvimento humano".
No entanto, como mostrou esta Folha, a porção sul de seu território perde indústrias e população, assiste ao declínio de sua economia tradicional, empobrece. A decadência da região arranha um pouco a imagem de Estado onde é menor o nível de desigualdade socioeconômica.
Mas não é apenas a idéia de Estado igualitário que é em certa medida afetada (pois o Rio Grande do Sul tem de fato melhores indicadores sociais). Também o conceito de que existem regiões brasileiras homogeneamente pobres ou ricas é, mais uma vez, jogado por terra. Nesses termos, o debate é mal-informado e pleno de idéias pré-concebidas.
Considere-se, por exemplo, o Estado de São Paulo. O mais industrializado e o responsável pela produção de grande parte da riqueza nacional. Troquem-se as lentes para enxergar o Vale do Ribeira, região paulista mais pobre, em que se encontram cidades como Barra do Turvo, onde, de cada dez pessoas, três vivem em situação de indigência, segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), do governo federal.
O mesmo raciocínio valeria para a comparação entre o Estado de Minas Gerais como um todo e o Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais miseráveis do Brasil.
Desse ponto de vista mais próximo da realidade social, dilui-se uma suposta oposição absoluta, radical, entre macrorregiões brasileiras, como seria o caso entre o Nordeste e o Sudeste ou entre o Norte e o Sul.
É com as lentes ajustadas para mais perto que é preciso formular políticas de desenvolvimento regional no país. Para combater as desigualdades, de pouco adianta enxergar uma nação cindida. É mais frutífero considerar o Brasil como um só e injusto país.




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