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O governo tem permitido que os preços dos pedágios das rodovias se tornem abusivos?
SIM
É hora de baixar as tarifas
ROMEU NERCY LUFT
Os governos estaduais e federal não
apenas permitem a prática de preços
abusivos nos 180 postos de pedágios
que proliferam pelo país como são os
autores dessa prática perversa.
Mentor da política de concessões, o
governo federal revelou uma saudável
preocupação ao formular seu modelo:
a de evitar que os custos do pedágio ultrapassassem os benefícios trazidos
pela melhora do estado de conservação das rodovias.
Para atingir o objetivo, fixou um teto
máximo para as tarifas, equivalente
aos benefícios obtidos pelos usuários,
estabelecendo que venceria as licitações quem oferecesse o menor preço
de pedágio.
Na prática, contudo, o DNER acabou
superestimando tais benefícios, ao
adotar custos operacionais inflados
para os veículos. Especialmente para
os caminhões, a tarifa é muito maior
do que a economia obtida. Assim, embora concebido com objetivo oposto,
o pedágio se transformou em mais um
pesado componente do "custo Brasil".
Além de superestimadas, as tarifas
são monopolistas (ao contrário do que
ocorre em outros países, aqui o governo não oferece percursos alternativos)
e começam a ser cobradas antes mesmo que a concessionária realize investimentos mínimos.
Não é de estranhar, portanto, que o
negócio seja, desde cedo, altamente lucrativo. Enquanto na Europa o retorno
do investimento só começa depois de
oito ou dez anos, a NovaDutra, por
exemplo, fechou o balanço no azul em
1997. Em 1998, a empresa ostentava invejável lucro bruto de R$ 92 milhões,
equivalente a 41,7% do seu faturamento líquido.
Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, não
satisfeitos em transferir aos usuários
os custos de conservação, acabaram
transformando as concessões em fontes de receita complementares ou de
redução de despesas.
Nesses Estados, o governo define a
tarifa e concede as rodovias às empresas que oferecerem maior remuneração ou a conservação gratuita de maior
quilometragem adicional.
Num lote como o da Anhanguera/
Bandeirantes, em São Paulo, o ônus da
concessão chega a R$ 1,8 bilhão e representa cerca de 30% da receita prevista. Isso onera sobremaneira os custos do transporte.
Um caminhão de três eixos, com 12
toneladas de carga, que vai de São Paulo até Igarapava, na divisa com Minas,
paga nada menos que oito pedágios,
totalizando R$ 96. Isso encarece o frete
em R$ 8 por tonelada, num percurso
em que o frete-carreteiro não passa de
R$ 20.
No caso particular dos caminhões,
outro fator que torna ainda mais abusivo o pedágio é a cobrança em dobro
por eixo em relação aos automóveis.
Tal discriminação torna o pedágio dos
comerciais em São Paulo mais caro do
que na Itália, por exemplo, onde veículos de carga e automóveis pagam a
mesma tarifa por eixo.
Infelizmente, o modelo adotado não
prevê também a redução gradual da
tarifa conforme o número de eixos,
política usual na maioria dos países
adiantados. Afinal, quanto maior o
número de eixos, menor o dano ao pavimento por tonelada.
A generalizada insatisfação com as
tarifas abusivas foi a mola mestra da
recente paralisação geral dos transportadores autônomos, não apoiada pelas
entidades patronais. O sucesso inesperado do movimento indica que, a
exemplo do que já aconteceu na Argentina, é chegada a hora de baixar os
pedágios também no Brasil. O exemplo mexicano mostra que as concessionárias que se opuserem a essa medida inevitável correm o risco de matar
a galinha dos ovos de ouro.
Romeu Nercy Luft, 52, economista, é presidente da
Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC) e
diretor da Confederação Nacional dos Transportes
(CNT).
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