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AMEAÇA À DEMOCRACIA
Um dos dilemas que se colocam
para as democracias diz respeito a como elas devem tratar os
grupos que têm entre suas metas justamente a de acabar com a democracia. Essa discussão ganha evidência
agora com a suspensão do partido
Batasuna na Espanha. Não importa
o que agora digam suas lideranças, o
Batasuna é o braço político do ETA, o
grupo terrorista de extrema esquerda
basco que, em seus 34 anos de existência, matou mais de 800 pessoas.
É legítimo que a democracia se defenda dos que possam atentar contra
ela. Muitos países democráticos possuem leis nesse sentido e, por vezes,
as usam. A França, por exemplo,
acaba de proscrever o grupo de extrema direita à qual pertencia o homem
que, no dia 14 de julho, tentou assassinar o presidente Jacques Chirac. E
isso apesar de o suspeito ser um
doente mental que comprovadamente agira sozinho.
No caso espanhol, o vínculo é ainda mais gritante. O Batasuna repetidamente incluiu em suas listas eleitorais pessoas que haviam sido presas como militantes do ETA e se recusa a condenar as ações do grupo
terrorista, mesmo as mais bárbaras,
que não tinham objetivos militares e
resultaram na morte de crianças.
O argumento de que a Espanha impede a autodeterminação dos bascos
é pífio. Em primeiro lugar, o Batasuna não conta com os votos de mais
de 10% dos eleitores bascos; 90% votam com partidos que condenam o
terrorismo. Os bascos de fato foram
perseguidos durante a ditadura franquista, mas hoje habitam a região
que provavelmente goza da maior
autonomia dentro da União Européia. Possuem, por exemplo, língua,
Parlamento e polícia próprios.
Do ponto de vista da eficácia, porém, há quem conteste a decisão de
suspender o Batasuna. Muitos analistas julgam que teria sido mais vantajoso manter a agremiação dentro
da lei, na tentativa de credenciar interlocutores para negociações futuras, mais ou menos como o Reino
Unido fez com o Sinn Fein, o braço
político do IRA, na Irlanda do Norte,
com resultados satisfatórios. Pode-se até discutir a oportunidade da
proibição, mas é inquestionável que
a Espanha tem legitimidade para colocar o Batasuna na ilegalidade.
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