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CARLOS HEITOR CONY
Fim de governo
RIO DE JANEIRO - Tradição antiga, fim de governo é assim mesmo. Os
contínuos não mais se levantam quando o diretor chega, o café servido às visitas é frio e frio é o tratamento que os chefes recebem de seus subordinados. Tudo vai mudar e todos se preparam de uma forma ou de outra para os tempos que se abrem.
Conhecido meu, do escalão intermediário da República, esteve nesta
semana em Brasília e voltou horrorizado. "Está tudo de pernas pro ar!" O
expediente é tocado por subalternos,
nenhuma decisão é tomada, assuntos
pendentes ficam mais pendentes, pois
todos querem saber para onde o vento está soprando.
O pior de tudo é que, tal como na
meteorologia, não existe um vento
específico, e sim ventos que sopram
em várias direções. Os anemômetros
registram a velocidade de um e de
outro, mas não há certeza sobre o
vento mais forte que irá predominar
-e aí a confusão é geral.
Para piorar a coisa, e diferentemente de outras eleições, os caminhos conhecidos da política estão embaralhados -gente da esquerda aliada à
direita, gente da direita falando em
reforma agrária, gente da esquerda
puxando o saco do FMI e, no meio
disso tudo, gente que habitualmente
fica em cima do muro tomando posições radicais e radicais ficando em cima do muro.
Como não frequento o poder, não
tomo o café frio servido neste fim de
governo. Tampouco pretendo tomar
o café feito na hora do próximo governo, seja ele qual for. Até certo ponto, distraio-me com o espetáculo que
alguns levam a sério, descobrindo
virtudes nuns candidatos e defeitos
em outros.
Todos têm as suas virtudes e os seus
defeitos, como todos nós, irmãos feitos no mesmo barro da miséria humana. Agora, brigar por um ou por
outro me parece idiota. Aquele mesmo idiota que, segundo Shakespeare,
conta uma história cheia de som e de
fúria e que nada significa.
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