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ELIANE CANTANHÊDE
A ferida
BRASÍLIA - O documentário "Araguaya - Conspiração do Silêncio", de
Ronaldo Duque, será apresentado
hoje em Brasília. Oportuno. A anistia
completa um quarto de século, e o governo é cheio de anistiados.
A ministra Dilma Roussef (Minas e
Energia), que já havia cumprido três
anos de prisão, teve dois ganhos com
a anistia: voltou a ser ré primária e
recuperou os direitos políticos. Hoje,
ela diz que a anistia foi "muito importante", mas não seria justo comemorar naquela época: "Questão de
lealdade aos companheiros que estavam ficando na cadeia", justifica. A
lei de 1979 excluía os envolvidos em
"crimes de sangue".
Dilma Roussef é um bom exemplo
de como aquela anistia, apesar de
não ser a desejada, foi decisiva para
recuperar cidadãos, quadros políticos
e a própria democracia -que veio a
desembocar nos governos FHC e Lula, como frisa o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
No governo anterior, havia anistiados como os ministros José Serra, do
Planejamento e depois da Saúde,
Paulo Renato Souza, da Educação, e
Aloysio Nunes Ferreira, da Justiça.
No atual, os anistiados chegaram ao
Planalto, a começar pelo próprio José
Dirceu (Casa Civil).
Além dele, foram de alguma forma
beneficiados pela anistia o secretário
nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, o subsecretário de
Promoção e Defesa de Direitos Humanos, Perly Cipriano (que participou da greve de fome de prisioneiros
políticos, grande marketing pró-anistia), o embaixador em Cuba, Tilden
Santiago, o assessor internacional da
Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Há, ainda, o mato-grossense Gilney
Viana, secretário de Políticas para o
Desenvolvimento Sustentável, e o mineiro Márcio Lacerda, secretário executivo do Ministério da Integração
Nacional. Só para citar alguns.
Que eles ajudem a cobrar do governo respostas consistentes sobre os desaparecidos. Passados 25 anos, a
anistia ainda não é "ampla, geral e
irrestrita". As famílias do Araguaia
clamam por clemência e paz.
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