São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

A ferida

BRASÍLIA - O documentário "Araguaya - Conspiração do Silêncio", de Ronaldo Duque, será apresentado hoje em Brasília. Oportuno. A anistia completa um quarto de século, e o governo é cheio de anistiados.
A ministra Dilma Roussef (Minas e Energia), que já havia cumprido três anos de prisão, teve dois ganhos com a anistia: voltou a ser ré primária e recuperou os direitos políticos. Hoje, ela diz que a anistia foi "muito importante", mas não seria justo comemorar naquela época: "Questão de lealdade aos companheiros que estavam ficando na cadeia", justifica. A lei de 1979 excluía os envolvidos em "crimes de sangue".
Dilma Roussef é um bom exemplo de como aquela anistia, apesar de não ser a desejada, foi decisiva para recuperar cidadãos, quadros políticos e a própria democracia -que veio a desembocar nos governos FHC e Lula, como frisa o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
No governo anterior, havia anistiados como os ministros José Serra, do Planejamento e depois da Saúde, Paulo Renato Souza, da Educação, e Aloysio Nunes Ferreira, da Justiça. No atual, os anistiados chegaram ao Planalto, a começar pelo próprio José Dirceu (Casa Civil).
Além dele, foram de alguma forma beneficiados pela anistia o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, o subsecretário de Promoção e Defesa de Direitos Humanos, Perly Cipriano (que participou da greve de fome de prisioneiros políticos, grande marketing pró-anistia), o embaixador em Cuba, Tilden Santiago, o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Há, ainda, o mato-grossense Gilney Viana, secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, e o mineiro Márcio Lacerda, secretário executivo do Ministério da Integração Nacional. Só para citar alguns.
Que eles ajudem a cobrar do governo respostas consistentes sobre os desaparecidos. Passados 25 anos, a anistia ainda não é "ampla, geral e irrestrita". As famílias do Araguaia clamam por clemência e paz.


Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Foi o PT que fez
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Foro especial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.