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CLÓVIS ROSSI
Desfazendo a herança Lula
SÃO PAULO - A crise da Volkswagen -ou, mais exatamente, de sua
unidade de São Bernardo do Campo, particularmente emblemática-
acaba sendo todo um compêndio
sobre a evolução da economia global e a involução do sindicalismo e
da ação governamental.
Nos anos 70/início dos 80, o sindicalismo, graças em grande medida à liderança de Luiz Inácio Lula
da Silva, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, obteve ganhos notáveis em salários e condições de trabalho para certos setores
operários. Ganhos que se prolongaram no tempo, a ponto de o salário
de um operário metalúrgico de São
Bernardo estar hoje, na média, em
R$ 3.600, mais que o dobro do que
se paga em unidades do Paraná
(perto de R$ 1.650).
Até 2001, quando a situação já
havia mudado, mas a liderança sindical ainda estava no sindicato, Luiz
Marinho, hoje ministro, obteve da
Volks um acordo que permitiu a
manutenção dos empregos por cinco anos.
Agora, no entanto, a correlação
de forças mudou tanto que André
Beer, ex-presidente da Anfavea (a
associação dos fabricantes de veículos), diz a Lilian Witte Fibe (Uol
News) que quem faz acordo assim
"não está bem da cabeça".
Por quê? Simples: nas condições
presentes do capitalismo global, a
ordem é produzir cada vez mais
com cada vez menos gente. Demitir
em penca, portanto.
Nem Luiz Marinho nem Lula,
agora no governo, podem fazer algo,
como faziam antigamente. E nem é
culpa deles, a não ser pelo fato de
que, ou não acompanharam, ou não
entenderam a mudança do jogo,
pró-capital. Ainda mais pró-capital
do que habitualmente.
Vai piorar mais, prevê Beer:
"Quando vierem [em dois ou três
anos] as montadoras chinesas, salve-se quem puder".
Há algum candidato por aí que tenha idéia de como salvar quem puder ser salvo?
crossi@uol.com.br
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