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PLÍNIO FRAGA
A marca deles é a crise
RIO DE JANEIRO - O excelente
documentário da americana Rachel
Boyton "Bolívia: História de uma
Crise", ainda em cartaz no Rio e em
São Paulo, tem um título original
mais cifrado, mas mais criativo e
provocador do que o da versão brasileira. "Our Brand is Crisis" deve
ser traduzido para algo como "crise
é nossa marca".
O documentário acompanha o
passo a passo da campanha à Presidência da Bolívia de Gonzalo Sánchez de Lozada, o Goni. Na década
de 90, marcou sua gestão administrativa por privatizações e abertura
ao capital estrangeiro.
Em 2002, mal nas pesquisas e
com alta rejeição, Goni tentava voltar à Presidência. Como saída, contratou o marqueteiro James Carville, que já deu palpites aqui em campanhas de Paulo Maluf e FHC.
Na Bolívia, Carville e sua equipe
conseguiram virar uma disputa que
parecia perdida, prometendo suprir os anseios do eleitor mais do
que atender as necessidades do
país. Goni foi reeleito, mas ficou sete meses no poder, sendo obrigado
a renunciar em meio a uma crise social e política conturbada, com mais
de cem mortos em protestos. O filme termina com o ex-presidente
exilado em Washington, de onde
assistiu à vitória de Evo Morales, no
pleito de sua sucessão.
O problema dos marqueteiros é
que não poupam nem a mãe para
vencer. Não resolvem problemas,
como abordá-los na campanha. Depois passam o pepino adiante.
Um dos mais badalados marqueteiros brasileiros respondeu certa
vez a uma questão prosaica. Um homem de 40 anos ainda vivia com a
mãe e tinha sua imagem no universo feminino prejudicada cada vez
que tocava no tema. "Pare de dizer
que você mora com sua mãe. Diga
que sua mãe mora com você." Antes
dependente, agora provedor. A situação da mãe não mudou, mas o
discurso ficou muito melhor.
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