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NELSON MOTTA
Ficção ou confissão?
RIO DE JANEIRO - Foi tudo uma
conspiração da imprensa, da oposição conservadora, da Procuradoria
Geral da República e do Supremo
Tribunal Federal para destruir José
Dirceu: "uma tentativa da oposição
e da elite de inviabilizar o governo
Lula e o projeto político que o PT e o
presidente representam", afirmou
em nota. Se as denúncias do procurador-geral eram uma "peça de ficção", como disse o advogado de José Dirceu, o que dizer então desse
argumento?
Além de péssima ficção, inverossímil até para militantes partidários, é sobretudo uma confissão de
culpa. Afinal, para que tão diversas
forças se unissem contra ele, Dirceu
seria mesmo o líder do "projeto político que o PT e o presidente representam". Nada se fazia, muito menos em negociações políticas, sem o
seu aval. Como imaginar que Delúbio, Marcos Valério e os deputados
petistas tomassem tantas e tão graves decisões sem consultá-lo? Dirceu não é Waldir Pires, os ministros
do STF não são idiotas. O único a
votar a favor de Dirceu foi, "com a
faca no pescoço", Lewandowski.
Em Watergate também não havia
"provas" contra Nixon, mas evidências e testemunhos, que, revelados
e processados, o levaram à renúncia. Que prova quer Dirceu? Uma
ata de reunião da turma, assinada
por todos, com os planos, nomes,
cargos e quantias? Talvez nem isso
bastasse: seu braço direito Waldomiro Diniz foi gravado pedindo
propina há três anos e continua
impune.
A única possibilidade de absolvição de Dirceu é a improvável hipótese de Valério, os petistas e os aliados no esquema serem inocentados. Mas, se forem condenados,
nem um advogado ficcionista poderá dizer que Dirceu ignorava as negociações e seus objetivos.
Porque não existe uma quadrilha
sem chefe. Nem um projeto político
sem líder.
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