São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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NELSON MOTTA

Ficção ou confissão?

RIO DE JANEIRO - Foi tudo uma conspiração da imprensa, da oposição conservadora, da Procuradoria Geral da República e do Supremo Tribunal Federal para destruir José Dirceu: "uma tentativa da oposição e da elite de inviabilizar o governo Lula e o projeto político que o PT e o presidente representam", afirmou em nota. Se as denúncias do procurador-geral eram uma "peça de ficção", como disse o advogado de José Dirceu, o que dizer então desse argumento?
Além de péssima ficção, inverossímil até para militantes partidários, é sobretudo uma confissão de culpa. Afinal, para que tão diversas forças se unissem contra ele, Dirceu seria mesmo o líder do "projeto político que o PT e o presidente representam". Nada se fazia, muito menos em negociações políticas, sem o seu aval. Como imaginar que Delúbio, Marcos Valério e os deputados petistas tomassem tantas e tão graves decisões sem consultá-lo? Dirceu não é Waldir Pires, os ministros do STF não são idiotas. O único a votar a favor de Dirceu foi, "com a faca no pescoço", Lewandowski.
Em Watergate também não havia "provas" contra Nixon, mas evidências e testemunhos, que, revelados e processados, o levaram à renúncia. Que prova quer Dirceu? Uma ata de reunião da turma, assinada por todos, com os planos, nomes, cargos e quantias? Talvez nem isso bastasse: seu braço direito Waldomiro Diniz foi gravado pedindo propina há três anos e continua impune.
A única possibilidade de absolvição de Dirceu é a improvável hipótese de Valério, os petistas e os aliados no esquema serem inocentados. Mas, se forem condenados, nem um advogado ficcionista poderá dizer que Dirceu ignorava as negociações e seus objetivos.
Porque não existe uma quadrilha sem chefe. Nem um projeto político sem líder.

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