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RUY CASTRO
Tiros no peito
RIO DE JANEIRO - Parece folclore ou coisa de filme, mas às vezes
acontece, e sempre sai nos jornais.
Há dias, em Ocauçu, cidade do interior paulista a 425 km da capital,
um homem de 53 anos levou três tiros. Um deles, no peito, poderia ter
sido fatal se ele não levasse no bolso
da camisa uma carteira e, dentro
desta, uma rica medalha chinesa,
que reduziu o impacto da bala.
A primeira vez que fiquei sabendo de caso parecido foi em Portugal,
em 1974, onde eu morava, no apogeu da Revolução dos Cravos. Uma
briga entre duas sólidas vendedoras
de peixe por causa de um homem,
na feira de Lisboa, fez com que uma
desse um tiro na outra, à queima-roupa. O impacto jogou a mulher
quase um metro para trás, mas ela
não morreu. Um jornal deu: "A trabalhadora da indústria piscatória
foi salva pelas barbatanas do seu
sutiã, as quais lhe serviram de
couraça".
Quando digo que parece coisa de
filme é porque, no cinema mudo, os
faroestes americanos usaram muito essa ideia. No começo, era o xerife que se salvava de morte certa
porque a bala que lhe era destinada
pelo bandido ricocheteava na estrela que ele trazia pregada na camisa.
Depois, Hollywood radicalizou e
criou a sequência em que o pastor
da cidade, amigo do mocinho, também era atingido no coração por
uma bala durante o tiroteio final.
Mas não morria, porque era salvo
pela Bíblia que trazia no bolso interno do paletó. A ideia era boa, mas
o cinema abusou dela de tal jeito
que teve de abandoná-la -ninguém
mais a levava a sério.
Woody Allen propôs uma alternativa original num dos seus textos
para a "New Yorker". Ele se imagina parado numa esquina quando
passa um pastor e lhe atira uma Bíblia. Esta o atinge em cheio no peito. Mas Woody não morre, porque é
salvo por uma bala que trazia no
bolso da jaqueta.
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