São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2010

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Editoriais

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Império do tráfico

A chacina que vitimou no México 72 imigrantes, na semana passada, entre eles um número ainda incerto de brasileiros, pôs sob holofotes o império da violência associada ao narcotráfico que, em algumas áreas, parece ter escapado por completo ao controle do poder público daquele país.
Quando chegou à Presidência, em 2006, Felipe Calderón decretou guerra aos cartéis da droga, mas até agora ele e o Estado mexicano vêm encontrando sérias dificuldades para vencer.
Ameaçados, os traficantes são cada vez mais audaciosos na defesa de seu território: impõem censura a meios de comunicação, chacinam imigrantes que se negam a cooperar e sequestram e matam políticos e jornalistas.
Com um saldo de mortos que se aproxima dos 30 mil, Calderón já admite publicamente uma discussão sobre a legalização das drogas, anátema para o presidente mexicano até há pouco. É natural que esse tipo de discussão ganhe adeptos no país, mas é inescapável que, antes de tudo, o combate militar ao tráfico se fortaleça.
A missão está longe de ser simples. Nas últimas décadas, com alguma conivência do poder público, o narcotráfico vem se enraizando no país e infiltrando-se nas instâncias que deveriam combatê-lo - do que é prova, aliás, a dispensa de 3.200 agentes suspeitos da Polícia Federal.
Além de medidas para restaurar a credibilidade e a saúde do poder público, o problema pede um envolvimento maior dos Estados Unidos, destino prioritário das drogas que movem o tráfico.
Os EUA são o grande mercado consumidor e proporcionam aos cartéis mexicanos fácil acesso a armas, adquiridas legalmente em seu território. É também no vizinho rico que o narcotráfico lava dinheiro para dar fachada legal a suas operações.
Para impedir que o México continue em seu perigoso avanço rumo a um "narcoestado", o enfrentamento dessas situações deve ser tão prioritário quanto o combate militar aos cartéis.


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