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CARLOS HEITOR CONY
Bienais
RIO DE JANEIRO - Sou um profissional do livro, tanto na mão como
na contramão, na voz ativa e na
passiva. Acho que passei a maior
parte do meu tempo lendo ou escrevendo, e confesso que, embora não
me justifique, o contato com o livro
tem sido o melhor da minha vida
-ao lado de outros prazeres, poucos e não bastantes.
Mesmo assim, não gosto da palavra "bienal", usada pelas feiras de
livros que, felizmente, se realizam
anualmente. Mas considero o evento necessário para a promoção do
livro como um todo, e não da literatura em si.
Sempre ouvi dizer que há duas
maneiras de ser escritor. A primeira, a mais tradicional, é a do refúgio
na chamada torre de marfim, em
que o autor se isola para não se promiscuir com o mercado.
A segunda considera o livro como um elo entre o autor e o leitor,
não diviniza nem demoniza a praxe, aceita a regra do jogo e dá o seu
recado.
Há gênios e imbecis nas duas categorias. Gênios que se isolam e imbecis que também cultivam a torre
que eles julgam ser de marfim.
Deve ser o meu caso, embora a
minha torre seja um escombro,
mais inclinada e muito mais feia do
que a de Pisa.
Não é por aí que a literatura sobrevive como arte e como uma das
vias mais importantes da cultura
universal e do enriquecimento espiritual. É difícil admitir a existência de gênios inéditos, mas pode
haver algum a ser descoberto pela
posteridade.
No geral, o gênio pode tardar a
ser reconhecido, mas, antes disso,
tem de pagar um preço: tirante a
própria vida, nada é gratuito na vida. Não há almoços grátis.
Como gênio é coisa rara, e discutível, quem não é gênio precisa pagar o mico e, mais por humildade
do que por vaidade, se submeter à
sua circunstância.
Por tudo isso, salve as bienais,
principalmente as anuais.
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