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CLÓVIS ROSSI
O fantasma
FILADÉLFIA - É tremendamente sintomático: na capa de ontem do jornal
"The New York Times", símbolo de
excelência, está Osama bin Laden,
mas não estão nem George Walker
Bush nem seu adversário John Kerry.
Idem no "Philadelphia Inquirer", para citar apenas um jornal regional,
da cidade em que estou.
Como é possível que um cidadão de
cuja existência se poderia até duvidar, tão poucos são os que o viram ou
falaram com ele, domine o noticiário
até na maior potência planetária de
todos os tempos, ainda mais em plena temporada eleitoral?
A explicação é, à primeira vista,
muito fácil: Bin Laden assumiu (de
forma explícita, aliás, só no teipe de
anteontem) os ataques de 11 de setembro de 2001, os primeiros que o
território continental dos EUA sofre
de um inimigo externo.
Claro que a sensibilidade está notavelmente aguçada, com razão. Mas a
dúvida seguinte é também simples de
expor: como é que as mais poderosas
Forças Armadas do planeta e um serviço de inteligência pletórico e bem
equipado tecnologicamente não conseguem localizar o chefe do terrorismo, três anos depois dos atentados,
mesmo tendo ocupado o território
em que ele supostamente vivia ou vive (o Afeganistão)?
Para quem gosta de teorias conspiratórias, uma de primeira linha está
no ar pela rede britânica BBC2 (pena
que não passe no Brasil). É uma série
que se chama "O Poder dos Pesadelos: a Ascensão da Política do Medo".
Tese central: "Numa época em que
todas as grandes idéias perderam
credibilidade, o medo de um inimigo
fantasma é tudo o que resta aos políticos para preservar seu poder".
Para o meu gosto, admito que é um
pouco fantasioso, até porque há muitas outras maneiras de os políticos
preservarem o poder, como bem sabem os brasileiros.
Mas, para um mundo que está jogando luz até nas menores partículas
internas do ser humano, o fantasma
Bin Laden tem poder demais e sombras demais em torno dele.
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