São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O fantasma

FILADÉLFIA - É tremendamente sintomático: na capa de ontem do jornal "The New York Times", símbolo de excelência, está Osama bin Laden, mas não estão nem George Walker Bush nem seu adversário John Kerry. Idem no "Philadelphia Inquirer", para citar apenas um jornal regional, da cidade em que estou.
Como é possível que um cidadão de cuja existência se poderia até duvidar, tão poucos são os que o viram ou falaram com ele, domine o noticiário até na maior potência planetária de todos os tempos, ainda mais em plena temporada eleitoral?
A explicação é, à primeira vista, muito fácil: Bin Laden assumiu (de forma explícita, aliás, só no teipe de anteontem) os ataques de 11 de setembro de 2001, os primeiros que o território continental dos EUA sofre de um inimigo externo.
Claro que a sensibilidade está notavelmente aguçada, com razão. Mas a dúvida seguinte é também simples de expor: como é que as mais poderosas Forças Armadas do planeta e um serviço de inteligência pletórico e bem equipado tecnologicamente não conseguem localizar o chefe do terrorismo, três anos depois dos atentados, mesmo tendo ocupado o território em que ele supostamente vivia ou vive (o Afeganistão)?
Para quem gosta de teorias conspiratórias, uma de primeira linha está no ar pela rede britânica BBC2 (pena que não passe no Brasil). É uma série que se chama "O Poder dos Pesadelos: a Ascensão da Política do Medo". Tese central: "Numa época em que todas as grandes idéias perderam credibilidade, o medo de um inimigo fantasma é tudo o que resta aos políticos para preservar seu poder".
Para o meu gosto, admito que é um pouco fantasioso, até porque há muitas outras maneiras de os políticos preservarem o poder, como bem sabem os brasileiros.
Mas, para um mundo que está jogando luz até nas menores partículas internas do ser humano, o fantasma Bin Laden tem poder demais e sombras demais em torno dele.


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