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São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Esperanças

SÃO PAULO - Uma dessas frases de contundente obviedade que costumam pontuar o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva torna-se, desta vez, uma espécie de micro-balanço de seu primeiro ano.
Disse o presidente, em seu programa de rádio da segunda-feira, que o brasileiro é "fantástico", porque "mesmo quando as pessoas estão desempregadas, estão sem dinheiro ou não estão podendo comprar aquilo que querem, estão acreditando que o amanhã será melhor".
Convenhamos que não há alternativa para quem está nessa situação. Sem emprego, sem renda e sem possibilidade de comprar o que quer, ou o cidadão dá um tiro na cabeça ou acredita que pior não pode ficar e, portanto, só pode melhorar.
Há um terceiro caminho, cada vez mais trilhado especialmente pelos jovens brasileiros, que é o de aderir ao crime, organizado ou não. Mas não seria de bom tom levantar essa hipótese, ainda mais em pleno festejo de Ano Novo.
De todo modo, o primeiro ano de Lula foi, para muita gente, de desemprego, de queda de renda e, por extensão, de impossibilidade de comprar não apenas um eventual supérfluo em que estivesse interessado mas até o indispensável.
É verdade que a queda na renda pode continuar, que até o presidente admite que o desemprego pode aumentar mesmo que haja uma retomada da economia, mas o fato é que o brasileiro, na sua maioria, prefere ter esperanças de que 2004 vá ser melhor. Uns por genuína crença, outros por um compreensível mecanismo de auto-defesa, na suposição de que entregar-se ao pessimismo só ajuda a trazer mesmo o pior.
Por isso a popularidade do presidente mantém-se em patamar elevado, embora a de seu governo já não alcance nem a metade do eleitorado. Já não se trata de a esperança vencer o medo, mas de medo de perder até a esperança.
Que ela se mantenha em pé em 2004 é o mínimo que desejo ao leitor.


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