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CLÓVIS ROSSI
Esperanças
SÃO PAULO - Uma dessas frases de contundente obviedade que costumam pontuar o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva torna-se,
desta vez, uma espécie de micro-balanço de seu primeiro ano.
Disse o presidente, em seu programa de rádio da segunda-feira, que o
brasileiro é "fantástico", porque
"mesmo quando as pessoas estão desempregadas, estão sem dinheiro ou
não estão podendo comprar aquilo
que querem, estão acreditando que o
amanhã será melhor".
Convenhamos que não há alternativa para quem está nessa situação.
Sem emprego, sem renda e sem possibilidade de comprar o que quer, ou o
cidadão dá um tiro na cabeça ou
acredita que pior não pode ficar e,
portanto, só pode melhorar.
Há um terceiro caminho, cada vez
mais trilhado especialmente pelos jovens brasileiros, que é o de aderir ao
crime, organizado ou não. Mas não
seria de bom tom levantar essa hipótese, ainda mais em pleno festejo de
Ano Novo.
De todo modo, o primeiro ano de
Lula foi, para muita gente, de desemprego, de queda de renda e, por extensão, de impossibilidade de comprar não apenas um eventual supérfluo em que estivesse interessado mas
até o indispensável.
É verdade que a queda na renda
pode continuar, que até o presidente
admite que o desemprego pode aumentar mesmo que haja uma retomada da economia, mas o fato é que
o brasileiro, na sua maioria, prefere
ter esperanças de que 2004 vá ser melhor. Uns por genuína crença, outros
por um compreensível mecanismo de
auto-defesa, na suposição de que entregar-se ao pessimismo só ajuda a
trazer mesmo o pior.
Por isso a popularidade do presidente mantém-se em patamar elevado, embora a de seu governo já não
alcance nem a metade do eleitorado.
Já não se trata de a esperança vencer
o medo, mas de medo de perder até a
esperança.
Que ela se mantenha em pé em
2004 é o mínimo que desejo ao leitor.
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