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São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Um ano de PT

BRASÍLIA - O maior mérito de Lula foi ter tomado posse e governado. É assim em países de democracia estável. Ganha-se a eleição, governa-se. Se o governo é bom ou ruim é outra história. O conteúdo da administração petista será escrutinado na disputa presidencial de 2006. Não custa lembrar que a última vez que um presidente da República eleito pela via direta passou o cargo para outro escolhido da mesma forma foi em 1961, com JK entregando a faixa para Jânio Quadros. Menos de um ano depois, Jânio deu o fora. Há uma importância histórica não desprezível no fato de um país sem tradição democrática como Brasil ter superado esse obstáculo. Lula foi eleito, tomou posse e governou. O diabo é que as pessoas se acostumam muito rapidamente à democracia. Querem resultados. No caso de Lula, o petista é beneficiado pela enorme benevolência dos eleitores. Acham que ele recebeu uma herança ruim. Aceitam esperar para enxergar resultados reais. É uma incógnita até quando vai durar a paciência -ou abulia- do eleitorado. Lula termina o ano com 42% de aprovação, segundo o Datafolha. Só 15% do eleitorado acham seu governo ruim ou péssimo. O petista tem cinco âncoras: 1) uma poderosa máquina de marketing (na realidade, já idealizada por FHC); 2) carisma pessoal; 3) amadurecimento da população; 4) aliança com a elite, aí incluídos bancos e grande capital em geral e 5) a inexistência de oposição real ao PT. No topo dessa conjuntura favorável, há a experiência política de quadros da cúpula petista. Neste ano que acaba hoje, tudo isso foi mais do que suficiente para Lula governar. Nos próximos três anos, não se sabe. Se continuar no ritmo atual, porém, uma coisa é certa: Lula terá passado quatro anos no poder e seu maior mérito será ter permanecido no cargo. É muito pouco.

Boa notícia para o leitor. Entro em férias em janeiro. Até a volta.


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