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Pobres moços
JORGE WERTHEIN
Na última década, entre os jovens brasileiros, a esperança de vida, em
vez de aumentar, diminui assustadoramente
NOS ÚLTIMOS dez anos, o Brasil perdeu uma geração inteira
de jovens vítimas da violência,
segundo mostra o "Mapa da Violência
2006", que a OEI (Organização dos
Estados Ibero-Americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura) divulgou há poucos dias.
O estudo mostra também que, entre os jovens de 15 a 24 anos, as causas
externas -como homicídios, acidentes de transporte e suicídios em conjunto- são responsáveis por 72,1%
das mortes. Esse dado, sozinho, já é
altamente preocupante, pois se opõe
ao registrado nas últimas pesquisas
nacionais, que apontam para uma
melhora gradual e constante das condições de saúde e de qualidade de vida
da população.
Infelizmente, na última década, entre os jovens brasileiros, a esperança
de vida, em vez de aumentar, está diminuindo assustadoramente.
Se, há 50 anos, as principais causas
de morte entre os jovens estavam associadas a epidemias e a doenças, nas
últimas décadas, o marco da mortalidade juvenil no Brasil se deslocou para os crescentes homicídios e acidentes de transporte.
Os dados do "Mapa da Violência
2006" mostram que, entre os jovens,
os homicídios são responsáveis por
39,7% das mortes, os acidentes de
transporte, por 17,1%, e os suicídios,
por mais 3,6%. Em conjunto, essas
três causas são responsáveis por quase dois terços das mortes de jovens
brasileiros. Cada um desses fatores
precisa de atenção especial.
Os dados alertam para o fato de que
são urgentes respostas e políticas voltadas para a preservação da vida dos
jovens brasileiros.
Esse não é um problema a ser resolvido exclusivamente pelo governo federal. Os governos estaduais e municipais também têm responsabilidade
na adoção de medidas integradas que
combatam a exclusão social, o desemprego e a falta de oportunidades. Esses fatores estão estreitamente vinculados para a explicação da crescente
violência que atinge essa parcela da
população.
Os problemas de exclusão enfrentados pelos jovens são conhecidos.
Porém, o mais alto grau de exclusão
social está entre os jovens que não estudam nem trabalham. Segundo estatísticas do IBGE, eles representam
aproximadamente 5 milhões.
Iniciativas como o Prouni, o Projovem, a criação da Secretaria Nacional
de Juventude e do Conselho Nacional
de Juventude e várias outras desenvolvidas pela sociedade civil são importantes, sem dúvida, mas ainda resta muito a ser feito.
Experiências em outros países (como os programas de segurança cidadã
de Cali e Bogotá) e mesmo no Brasil,
em localidades historicamente violentas, como Diadema e Osasco, em
São Paulo, e Betim, Belo Horizonte e
Contagem, em Minas Gerais, provam
ser possível mudar e adotar políticas
inteligentes que ajudem a reduzir a
violência.
Diadema, por exemplo, conseguiu
reduzir pela metade a taxa de homicídio em dois anos. O segredo foi combinar programas sociais com a adoção
de medidas fiscalizadoras.
É importante dotar as políticas públicas, em seu conjunto, de sensibilidade para os problemas específicos
dos jovens, superando decididamente
o enfoque limitado de trabalho setorial e centralizado.
Equivocadamente, alguns afirmam
que o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) se transforma em incentivo poderoso ao banditismo. Eis
um grave equívoco. Em vez de pensar
em aumentar as penas, mais valeria
tentar reduzir as causas que levam ao
banditismo e a tantas mortes de jovens. A verdade é que a exclusão social e a falta de presente e de futuro
são as principais causas da criminalidade e das mortes violentas de tantos
jovens brasileiros.
Assim, para romper definitivamente com o ciclo de exclusão e ampliar as
oportunidades da juventude tanto do
meio rural quanto do meio urbano, é
necessária a construção e o desenvolvimento de ações integradas nas
áreas de educação, trabalho, saúde,
segurança, esportes e lazer, entre outras, e em diálogo permanente com os
próprios jovens.
Só assim será possível salvar essa geração que se perde a cada dia.
JORGE WERTHEIN, doutor em educação e mestre em comunicação pela Universidade Stanford (EUA), é assessor
especial do secretário-geral da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura).
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