|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O exílio de Eliot Ness
SÃO PAULO - O delegado Paulo
Lacerda é o mais próximo que o
Brasil conseguiu produzir em matéria de Eliot Ness, que acabou mais
famoso pela série/filme "Os Intocáveis" do que por ter derrotado o crime organizado em Chicago. Aliás, é
justo que a fama venha pelo cinema,
já que o crime organizado em Chicago goza de muito boa saúde, como
acaba de demonstrar o episódio envolvendo o governador de Illinois,
Rod Blagojevich.
Lacerda, em vez de se tornar personagem de cinema, está indo para
o exílio, ainda que dourado, na doce
e bela Lisboa.
É a grande diferença entre Brasil
e Estados Unidos: lá, o xerife vai para o céu ou para o inferno, mata ou
morre, mas não vai para o exílio
nem para o limbo.
Aqui, não. Quantos dos Al Capones que a Polícia Federal de Paulo
Lacerda expôs ao público estão na
cadeia? Se eu disser nenhum estarei exagerando?
Aqui, tudo é turvo, raros casos
chegam de fato ao epílogo quando
envolvem criminosos ou suspeitos
de colarinho branco. Tanto que o
único punido, até agora, na tal Operação Satiagraha é quem? Sim, sim,
é o nosso Eliot Ness, o xerife, enquanto os vários acusados de Al Capone gozam do ar fresco da liberdade -e no Rio de Janeiro, que não
perde para Lisboa, a não ser no quesito bala perdida.
Se, como diz o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, Lacerda é uma
das pessoas que ele mais respeita,
por que a punição, ainda que seja
doce como o é um exílio dourado?
(o exílio só é duro quando você não
pode voltar para casa sob pena de
ser preso).
Nos Estados Unidos, Eliot Ness
não conseguiu enquadrar Al Capone em nenhum crime a não ser em
sonegação fiscal. No Brasil, a Operação Satiagraha só conseguiu enquadrar o nosso Eliot Ness. É todo
um compêndio sobre os usos e costumes da pátria amada.
Ainda assim, Feliz Ano Novo.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Ditadura em declínio Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Democracia em construção Índice
|